Para o homem, viver dentro de uma rotina não é o bastante, ele precisa criar, inventar, alimentar sua imaginação.
Observe os dois textos a seguir e entenda melhor.
Texto I:

Texto II:

Os textos I e II têm a mesma finalidade comunicativa? Qual é a motivação para a criação do texto I? Se olharmos com atenção para a primeira imagem, notaremos que se trata de uma campanha publicitária criada para conscientizar sobre a importância de os alunos devolverem os livros da biblioteca no prazo. Apesar da criatividade depreendida em sua feitura, ao expor uma intertextualidade com um quadro famoso, o texto produzido pela Universidade Federal de Goiás não apresenta relevância histórica, sociocultural ou estética, por isso, não pode ser classificado como um texto artístico.
O segundo texto visa provocar o incômodo para, assim, despertar a reflexão do público. Por apresentar tais características, é considerado um texto artístico que utiliza a pintura como meio de expressão. Para produzir arte, usamos diferentes materiais e, no momento em que as palavras se tornam matéria-prima, criamos a arte literária, isto é, a Literatura.
Em sentido amplo, qualquer texto pode ser nomeado como “literatura”, já que tal vocábulo significa, pelo dicionário Houaiss, “arte de escrever”. Porém, no âmbito do Ensino Médio, analisamos a confecção de textos artísticos e, por consequência, pensamos na Literatura como manifestação artística que se organiza em torno da palavra e da escrita.
Além disso, não podemos ignorar que qualquer representação artística é uma forma subjetiva e criativa de conceber a realidade. Na obra A Persistência da Memória (texto II), Salvador Dalí apropria-se de um objeto muito comum no nosso cotidiano: o relógio. Entretanto, o fato de estarem derretendo surpreende o público, pois apresenta esse objeto de uma maneira diferente do habitual, promovendo uma inovação.
Quando entendemos que toda obra de arte é uma representação do real, tornamo-nos cientes de um princípio básico: a mímesis. Dalí representa a realidade ao pintar relógios, mas, ao fazê-los derreter, retrata tais objetos de acordo com a própria subjetividade e originalidade. Tal exemplo nos permite perceber que a arte se aproxima do real, porém, por mais que uma obra esteja próxima da realidade, o objeto artístico não é a realidade.
TEXTO LITERÁRIO
Com a Literatura, usamos as palavras para retratar a realidade de forma subjetiva e inventiva, ou seja, de modo ficcional. Ademais, no texto literário, há a expansão do significado das palavras, prevalecendo, portanto, a linguagem conotativa. Compare os textos seguintes para compreender melhor.
Texto III:
Pedimos aos leitores e colaboradores que apontassem os poemas mais significativos de Paulo Leminski. Escritor, crítico literário e tradutor, Paulo Leminski foi um dos mais expressivos poetas de sua geração. Influenciado pelos dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos deixou uma obra vasta que, passados 25 anos de sua morte, continua exercendo forte influência nas novas gerações de poetas brasileiros. Seu livro “Metamorfose” foi o ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995.
(Fonte: https://www.revistabula.com/385-15-melhores-poemas-de-paulo-leminski/)
Texto IV:
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
(LEMINSKI, Paulo)
Ao lermos o texto III, percebemos que não houve expansão do significado das palavras, trata-se de um texto que traz uma informação com objetividade, por isso, não é um texto literário. Já o poema, caracteriza-se por usar a linguagem de forma conotativa (“Quando o poema me anoitece”, por exemplo) para criar um texto de relevância estética, desse modo, caracteriza-se como um texto literário.
O que faz com que o texto seja considerado literário?
- O texto literário apresenta uma relevância estética, histórica e sociocultural.
- Há carga conotativa.
- Aquilo que é considerado literário foi resultado de um processo criativo e intelectual.
- Apresenta ficcionalidade.
ESCOLAS LITERÁRIAS
Como o homem é um ser social, ele é influenciado pelos valores da época em que vive. Sendo assim, escritores que vivem em uma mesma época tendem a compartilhar valores e ideologias que são reproduzidos nos textos literários. Esse conjunto de escritores com traços de estilo semelhantes dá origem ao que chamamos de estilo de época ou escolas literárias.
Entender as diferentes escolas literárias é importante para entender os textos que foram produzidos em um determinado momento, no entanto, não podemos pensar que a arte segue regras. O trabalho de um escritor envolve, antes de tudo, invenção e criatividade, por isso, não devemos analisar um texto literário de forma simplista. Quando dizemos que Manuel Bandeira é um escritor modernista, isso não significa que toda a sua obra trará, necessariamente, característica modernistas.
UMA BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA
A língua de um povo é o patrimônio que o singulariza. A partir de tal perspectiva, pode-se entender que a Literatura constrói o patrimônio cultural e linguístico de uma sociedade.
A formação da Literatura de Língua Portuguesa começa, para fins didáticos, na Idade Média, quando os compositores de músicas cantavam suas trovas na Europa, acompanhados de um instrumento musical. Eram chamados de trovadores, sendo o Trovadorismo o primeiro estilo de época registrado.
Seguindo a cronologia da Literatura, tem-se o período do Renascimento europeu, caracterizado por seu antropocentrismo. A arte passa a ser tratada de forma racional, buscando inspiração na estética greco-romana.
Já no período seguinte, como resposta ao avanço do pensamento protestante, surge a arte barroca, resgatando os ideais defendidos pela Igreja Católica. Mais tarde, passado o dualismo e a instabilidade espiritual, a Literatura articula-se ao desenvolvimento do pensamento Iluminista e ganha novos contornos, aproximando-se da natureza e valorizando a emoção. O homem se vê, no Arcadismo, em meio a muitas alterações nas cidades e a conflitos políticos e usa o fingimento poético para retornar ao campo.
Inspirados pelos ideais da Revolução Francesa, os escritores românticos surgem e criam uma expressão artística que valoriza a liberdade e a individualidade. No Brasil, o Romantismo acompanha a independência do país, tornando-se um movimento de grande relevância.
Com o desenvolvimento da ciência ao longo do século XIX, a Literatura articula-se a esses valores para criticar e retratar a sociedade burguesa. O Realismo, bem como o Naturalismo distanciaram-se da estética romântica para manter uma postura mais racional dentro da Literatura.
Na poesia brasileira, o Parnasianismo passa a valorizar o texto rebuscado, equilibrado e belo. Distanciando-se da racionalidade, os escritores simbolistas, contemporâneos aos parnasianos, retomam uma poesia subjetiva e muito preocupada com a sonoridade.
Já no início do século XX, a Europa vivia um dos momentos mais férteis das manifestações artísticas: os movimentos de vanguarda. Nesse momento, o Brasil passava por uma fase de transição, o Pré-modernismo, que antecipou algumas características do Modernismo, mas ainda manteve elementos conservadores.
Influenciados pelo contato com a arte de vanguarda, um grupo de escritores decide criar uma arte de ruptura. Assim, surge a primeira fase do Modernismo brasileiro que teve como marco a Semana de Arte Moderna em 1922. A partir de então, a escrita torna-se mais coloquial e menos rebuscada e, com o passar do tempo e com as transformações sociais, o Modernismo adquire diferentes fases.
Ao longo dos capítulos, estudaremos todas essas manifestações artísticas com maior profundidade para que você fique bem preparado para as provas e concursos.
