Estude grátis

Romantismo: As gerações da poesia

Deve-se entender o Romantismo como o estilo literário que representará o anseio de liberdade burguês e, para romper com o estilo artístico anterior, criou-se uma literatura baseada na imaginação e sentimentalismo. Resulta daí uma literatura sonhadora, intuitiva, libertária e que não mais era produzida para agradar a nobreza.

Após entendermos o Arcadismo, redirecionamos nossos estudos para outro movimento estético que surge na Europa, no final do século XVIII. Trata-se do Romantismo.

Tal escola literária originou-se na Alemanha e, posteriormente, ganhou espaço na Inglaterra, chegando à França no início do século XIX. Surgiu como oposição ao espírito racional dos clássicos (equilíbrio, clareza, harmonia e perfeição) e como forma de expressão da burguesia, que define o seu poder com a Revolução Francesa e com o sucesso econômico da Revolução Industrial. 

Em tal contexto, o Iluminismo continua sendo a ideologia que orienta o pensamento humano, porém não mais pelo racionalismo de seus preceitos, mas sim pelo aspecto democrático e revolucionário.

INTRODUÇÃO

A Revolução Francesa revestiu-se de um caráter nacionalista, bem como a maioria das outras revoluções burguesas que ocorreram na Europa. Desse modo, o Romantismo foi decisivamente influenciado por esse nacionalismo, o que fez com que os artistas da época buscassem retomar alguns valores da Idade Média, como forma de revalorizar as origens históricas das nações europeias. Assim, resgataram a bravura, a honestidade, a valentia e a integridade de caráter dos heróis medievais, pois recuperar a figura deles era uma forma de demonstrar o nacionalismo.

Além disso, a sensibilidade burguesa, que caracteriza a estética em questão, estrutura-se sobre dois outros princípios, que podem ser vistos como consequência natural do liberalismo econômico: o individualismo e a liberdade. O burguês é, sobretudo, um individualista. Nas artes, o individualismo é sinônimo de subjetivismo e de egocentrismo, o que mostra que a arte romântica, ao promover a valorização do “eu”, torna-se muito mais pessoal, intimista e sentimental.

A liberdade preconizada pelo Romantismo indica a ruptura com os rígidos esquemas de composição feitos no Barroco e no Classicismo. Formas de composição consideradas clássicas, como o soneto e a elegia, perdem espaço. Outro aspecto importante a ser mencionado é a preocupação com a criação de uma escrita original e criativa.

PANORAMA HISTÓRICO BRASILEIRO

No Brasil, a estética romântica coincide com a conquista da Independência. Com a volta da corte portuguesa ao continente europeu, o país procura solidificar o seu processo de modernização. Fundaram-se, no período, as primeiras escolas de nível superior. Em 1836, em pleno período regencial, o Romantismo inicia-se com a publicação de Suspiros poéticos e saudades de Gonçalves Magalhães. 

Para os artistas da época, ao lado da independência política deveria existir a independência cultural. Tal pensamento motiva os intelectuais da época a buscarem por uma arte que valorizasse a história do país. Se, por um lado, o Romantismo europeu voltou-se para a valorização de elementos da Idade Média, por outro lado, a arte criada no Brasil se aproxima do período do descobrimento, resgatando, inicialmente, a figura do indígena.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Os escritores românticos cultivavam o nacionalismo, que se manifestava na exaltação da natureza pátria, no retorno ao passado histórico e na criação da figura de um herói nacional. A natureza passa a assumir múltiplos significados: ora é uma extensão da pátria, ora é um refúgio à vida atribulada dos centros urbanos do século XIX, ora é um prolongamento do próprio poeta e de seu estado emocional. Forma-se, então, uma literatura que valoriza de forma ufanista os elementos naturais e a figura do índio. Isso evidencia a forte idealização feita pelos escritores.

Outra característica marcante é o sentimentalismo, a supervalorização das emoções pessoais. Expõe-se sempre uma visão de mundo interior que carrega forte subjetivismo. A excessiva valorização do “eu” gera o egocentrismo. Evidentemente, tem-se um choque entre a realidade objetiva e o mundo interior do poeta. A derrota inevitável do ego provoca grande frustração e tédio, conduzindo à evasão romântica. Seguem-se constantes fugas da realidade: a valorização do passado e da infância, o sonho e a morte.

PRODUÇÃO NACIONAL

Dividiremos os nossos estudos entre a análise da poesia e da prosa. A poesia romântica brasileira é, para sua melhor compreensão, dividida em três gerações. Cada uma delas apresenta certas especificidades.

GERAÇÃO NACIONALISTA OU INDIANISTA

Demonstrar interesse pelos índios era recuperar nossas mais remotas origens históricas e míticas, o que correspondia ao medievalismo dos europeus. Isso ocorreu por conta de uma tentativa de se criar uma literatura que valorizasse o elemento nacional. Assim, como símbolos da terra, têm-se o índio e a natureza. O primeiro foi retratado como herói valente, forte e dotado de grande valor moral. Já o segundo foi mostrado de forma exuberante, repleto de belezas naturais.

Os principais autores deste momento são Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias.

Observe o poema “Leito de folhas verdes” de Gonçalves Dias a fim de entender melhor as características dessa geração.

LEITO DE FOLHAS VERDES

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d’alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

O poema de Gonçalves Dias apresenta um eu lírico feminino. Trata-se de uma índia que montou um leito de folhas para se deitar com o seu amado, porém ele não apareceu. Todo o texto volta-se para a angústia sentida por ela.

Faz-se necessário perceber que os amantes do poema não concretizam o amor. Tem-se, assim, grande idealização amorosa, característica marcante nos textos da estética romântica. Tal idealização aparece em um poema que também valoriza a natureza e expõe o índio como centro.

Por fim, nota-se que a linguagem é excessivamente subjetiva e expõe vocábulos relacionados com os elementos naturais (“bogari”, “tamarindo”, “flores”, “mangueira altiva” e “folhas verdes”).

GERAÇÃO ULTRARROMÂNTICA (BYRONIANA OU MAL DO SÉCULO)

A segunda geração de poetas do Romantismo afastou-se dos ideias nacionalistas, criando uma poesia fortemente influenciada pelos escritos de Lord Byron e de Musset. Os textos adquirem um tom ainda mais individualista, egocêntrico e melancólico.

Todo esse exagero emocional faz com que esta fase seja conhecida como ultrarromântica. Há grande atração pela noite, pela morte e até mesmo pelo macabro. Os principais nomes de tal período são Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Junqueira Freire e Casimiro de Abreu. 

Leia com atenção o trecho o fragmento do poema “Lembrança de morrer” de Álvares de Azevedo.

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
… Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade… é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
(…)

Após uma leitura atenta, pode-se notar que o eu lírico está tomado pelo tédio e, por isso, deixar de viver é motivo de alívio.

GERAÇÃO CONDOREIRA (HUGOANA)

A terceira divisão da poesia romântica é assim chamada por defender a abolição da escravidão. Caracteriza-se por apresentar poemas de cunho social, refletindo as lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II.

O termo condoreirismo é consequência do símbolo de liberdade adotado por seus escritores: o condor, ave da cordilheira dos Andes. O principal representante é Castro Alves.

Observe o fragmento de “Navio Negreiro”, famoso texto de Alves.

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa…
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!…

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus…
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão…

Na segunda estrofe, o eu lírico faz referência direta aos negros, colocando-os como homens bravos que foram escravizados.

CURSO EEAR 2023

ESA 2022

de R$ 838,80 por R$ 478,80 em até 12x de:

R$ 39,90/MÊS

SOBRE O CURSO:

SOBRE O CURSO:

SOBRE O CURSO:

Precisando
de ajuda?

Olá ProAluno!
Em que posso te ajudar?