Estima-se que, nessa época, 80% do capital mundial estivesse concentrado nas mãos de empresários de uns poucos países ricos, como Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos. Esse momento de transformação e evolução do capital na realidade global ficou conhecido como Segunda Revolução Industrial. O historiador Eric Hobsbawn atribui esse fenômeno a dois fatores principais:
1) Extraordinário crescimento dos mercados consumidores europeus.
2) Capitais acumulados na Europa na Primeira Revolução Industrial, iniciada em fins do século XVIII.
A Segunda Revolução Industrial caracterizou-se pela estreita relação entre ciência e tecnologia, ou seja, pela aplicação da pesquisa à descoberta de novas tecnologias na indústria, nos transportes e nas telecomunicações. Isso permitiu inúmeras inovações como:
- Em 1856, com a contribuição do engenheiro inglês Henry Bressemer, foi descoberta a transformação do ferro gusa em aço, substituindo o ferro por um material mais resistente.
- Na mesma época foi inventado o gerador – aparelho que transforma a energia mecânica em elétrica -, o que possibilitou o aproveitamento da energia elétrica em indústrias. Sendo produzida pela água, a energia se tornou relativamente barata, facilitando o avanço da industrialização.
- Os transportes passaram por uma verdadeira revolução com a substituição de cavalos por locomotivas, o crescimento da malha ferroviária e o uso do barco a vapor para o transporte de pessoas e mercadorias. O aproveitamento do petróleo e de seus subprodutos – como a gasolina e o diesel – no motor de explosão foi outro avanço decisivo daquela época.
- As comunicações também ganharam forte impulso com a invenção do telégrafo, em 1836, e do telefone, em 1876. Por volta de 1866, o cabo transatlântico entrou em funcionamento, permitindo a comunicação telegráfica entre várias partes do globo.
- houve também inovações nos campos da física, química, biologia e medicina, como o surgimento da teoria da divisão celular, as primeiras leis da genética, o peso atômico, a anestesia com éter, o conhecimento sobre a necessidade de assepsia nos procedimentos médicos.
- Bicicletas, relógios, máquinas de costura a pedal, utensílios domésticos, como panelas e formas, passaram a fazer parte de liquidações periódicas que incentivavam as pessoas a comprar a crédito cada vez mais.
Todas essas transformações ocorridas no século XIX, favoreceram a melhoria das condições de vida, o que possibilitou o crescimento da população por todo o mundo. Houve um salto da população mundial, que passou de 900 milhões de pessoas para 1,6 bilhão de habitantes. Esse processo de crescimento populacional afetou especialmente as áreas de maior industrialização, para onde se dirigiram muitas pessoas em busca de trabalho e novas perspectivas de vida.
Devido a esse crescimento populacional nas áreas urbanas, a oferta de mão de obra disponível ficou ainda mais abundante, favorecendo as práticas liberais de redução do salário pago aos empregados.

A miséria da Inglaterra industrial é retratada nesta imagem de 1872, de autoria de Gustave Doré.
Corbis/Latinstock/Coleção Stapleton
Nem todos os habitantes conseguiam trabalho, o que causava um aumento na população mendicante nas ruas das cidades europeias. Para combater o aumento de moradores de rua, no caso britânico, o Parlamento britânico aprovou a Lei dos Pobres (1834), que estabelecia o recolhimento dos desempregados às Workhouses (Casas de trabalho), onde ficavam confinados à espera de trabalho. Assim, era realizado um fornecimento de mão de obra barata ou quase escrava para a indústria nascente, num mundo onde não existia legislação trabalhista.
Essas péssimas condições de trabalho propiciaram a organização do operariado em torno de assuntos como as condições de trabalho no interior das fábricas, que eram extremamente degradantes, os baixos salários e a luta por uma legislação trabalhista, pressionando assim o Parlamento britânico.
OS TRABALHADORES VÃO À LUTA
Uma das primeiras reações dos trabalhadores ingleses foi de sabotar e destruir máquinas, que eram consideradas pelos trabalhadores as responsáveis por reduzir a oferta de trabalho. Na Inglaterra, essa destruição foi atribuída a grupos liderados pelo “general Nelson Ludd” nome inspirado no líder do movimento, o operário Nelson Ludd, daí o nome de ludismo. O movimento era constituído de trabalhadores que quebravam máquinas quando suas exigências de melhores salários e condições de trabalho não eram atendidas.
O ludismo teve início em 1811, na cidade de Nottingham, se espalhando rapidamente pela Inglaterra. Em 1812 o governo deu início a uma dura repressão aos ludistas, com a aprovação no Parlamento da pena de morte para quem fosse pego destruindo as máquinas. Com isso, o movimento foi perdendo força e os trabalhadores passaram a reagir por meio de greves e marchas de protesto de cunho pacífico. Exigindo a redução da jornada de trabalho, a abolição dos castigos nas fábricas e o aumento dos salários. A polícia reprimia as manifestações operárias com violência, prendendo e executando seus líderes.
Em 1824, com as contínuas manifestações operárias, o Parlamento acabou reconhecendo as associações operárias (trade unions) que promoviam auxílio mútuo entre os seus associados, e que no final do século XIX passaram a atuar como sindicatos, atuando na defesa dos interesses da classe trabalhadora.
Em 1830, o operariado continuou promovendo marchas de protesto por condições de trabalho e começou a buscar seus direitos políticos. Para conquistar mais força política, os operários deram início ao recolhimento de assinaturas, constituindo um abaixo assinado para pressionar os políticos do Parlamento. Em 1838, o recolhimento de assinaturas foi concluído e os trabalhadores entregaram ao Parlamento a Carta do Povo, um manifesto com mais de um milhão de assinaturas no qual exigiam:
1) voto secreto e extensivo a todos os homens.
2) abolição do voto censitário para o Parlamento, possibilitando a participação de representantes dos trabalhadores.
3) pagamento de salário aos deputados para que os trabalhadores também pudessem se candidatar.

A grande reunião cartista realizada em Kennington Commom, em abril de 1848 (gravura do século XIX). Hulton Archive/Getty Images
A luta pela aprovação da Carta do Povo deu origem a um movimento popular com grande força em toda a Inglaterra: o cartismo. As exigências dos cartistas foram recusadas pelo Parlamento, desencadeando ondas de greves, prisões e mortes de líderes operários. Ao longo do século XIX, utilizando-se de inúmeras manifestações e pressões, os cartistas obtiveram diversos benefícios como: a proibição do trabalho infantil e feminino nas minas (1842) e a jornada de trabalho de 10 horas diárias (1847).