CABANAGEM (1833-1836 – GRÃO-PARÁ)
A região do Grão-Pará foi uma das últimas regiões do Brasil a receber a notícia da independência, conduzida por D. Pedro I. O local foi palco de inúmeros problemas para a consolidação da emancipação, devido a disputas entre portugueses e brasileiros pelo poder local, o que demonstra a instabilidade existente na região. Com o Período Regencial, as tensões voltaram a aumentar. Além disso, a situação de vida da população era de extrema pobreza; a maior parte vivia em cabanas na beira dos rios, em condições miseráveis.
Em dezembro de 1833, Bernardo Lobo de Souza foi indicado pelo governo regencial e assumiu como presidente da província e, para tentar pacificar a região, atuou de maneira extremamente violenta. Seu autoritarismo, somado às péssimas condições de vida da população, acabou motivando o início da revolta, que recebeu o nome de Cabanagem devido ao tipo de moradia de seus integrantes.
Em Janeiro de 1834, a organização de um levante armado começou a ganhar forma. As intensas movimentações populares – tanto na capital (Belém), como nas zonas rurais – foram aos poucos encontrando seus líderes: o seringueiro Angelim, os irmãos Vinagre (lavradores), e o fazendeiro Felix Malcher. Na noite do dia 6 para 7 de janeiro de 1834 eclodiu o levante dos cabanos, que dominaram facilmente a capital do Grão-Pará e executaram o governador Bernardo Lobo de Souza.
Formou-se então o primeiro governo cabano, com o fazendeiro Malcher na presidência. Curiosamente, Malcher se declarou fiel ao futuro imperador D. Pedro de Alcântara e prometeu permanecer no poder até sua maioridade. Além disso, reprimiu a própria rebelião que o colocara no poder, tentando acabar com as agitações que assolavam a capital Belém. Como resposta, os cabanos retiraram Malcher do poder, executando-o, e colocaram Francisco Pedro Vinagre para assumir a presidência do Grão-Pará.
Assim como Malcher, o lavrador Vinagre acabou demonstrando que seria fiel ao imperador, estando, inclusive, disposto a entregar o poder a quem o o mesmo indicasse. O governo regencial, cada vez mais temeroso com o rumo dos acontecimentos, enviou um forte contingente militar ao Pará. De maneira inusitada recebeu ajuda do próprio Francisco Vinagre, que traiu o movimento da Cabanagem, facilitando a entrada das forças militares da regência na capital.
Apesar da chegada das tropas regenciais, apenas a capital foi retomada. No interior, os cabanos se reagruparam e atacaram a cidade de Belém, retomando seu controle. O novo governo cabano foi então organizado, com o seringueiro Angelim assumindo como presidente e proclamando em agosto de 1835 a República dos Cabanos.
Em abril de 1836, a regência enviou uma poderosa esquadra com o novo presidente do Pará, o brigadeiro Francisco José de Souza. Depois de enfrentar alguma resistência, a força repressiva desembarcou em Belém no dia 13 de maio. Os cabanos, enfraquecidos, recuaram para o interior. Sem poder oferecer resistência a uma força militar muito superior, acabaram derrotados. A Cabanagem deixou como resultado 30 mil mortos, sendo o movimento mais violento do período regencial. Foi o primeiro movimento popular que chegou ao poder, apesar de sua desorientação e de sua falta de continuidade.
SABINADA (1837-1838 – BAHIA)

A cidade de Salvador representada numa litografia de Aubrun,a partir de foto de Victor Frond, 1859.
Com a ascensão da regência de Araújo Lima, o governo regencial buscou reduzir o poder das Assembleias Legislativas Províncias, vistas como responsáveis por facilitar a eclosão de revoltas.
Com as ações de Araújo Lima para centralizar o poder, a classe média baiana – formada por oficias militares, profissionais liberais, funcionários públicos, pequenos comerciantes e artesãos – começou a se articular para enfrentar o poder regencial.
Sob a liderança de Francisco Sabino, no ano de 1837, os integrantes da Sabinada proclamaram a República na Bahia, que perduraria até a maioridade de D. Pedro II, enfrentando assim a autoridade de Araújo Lima. Para os revoltosos, a regência não tinha autoridade para governar o país e, para alguns sabinos, D. Pedro de Alcântara era o legítimo governante, por isso a declararam fidelidade ao futuro imperador.
Em 1838 os revoltosos chegaram a tomar um direcionamento mais radical: confiscaram os bens dos que haviam fugido de Salvador para a vila de São Francisco (Recôncavo Baiano), enviaram os portugueses para as prisões (demonstrando um sentimento antilusitano do movimento) e prometeram alforria para os escravos nascidos no Brasil que se alistassem nas tropas sabinas (indenizando seus proprietários).
Tal posicionamento acabou afastando os proprietários de terras, que decidiram se manter fiéis à Regência, firmando assim as forças legalistas da Guarda Nacional.
Suas forças foram organizadas na vila de São Francisco, região próxima a cidade de Salvador, para assim combater os sabinos.
No ano de 1838 o combate entre os sabinos e as forças da Guarda Nacional ocorreu nos arredores de Salvador. As forças Sabinas foram derrotadas em março de 1838, deixando um saldo de 1258 rebeldes mortos e 3000 prisões, dando um ponto final ao movimento. Seu líder, Francisco Sabino, foi preso e enviado para a província de Goiás, por imposições legais da regência.
Com a maioridade de D. Pedro II houve anistia aos condenados da sabinada, que, no entanto, foram proibidos de permanecer em Salvador, com objetivo de evitar novas manifestações.