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Reformas religiosas: Luteranismo, calvinismo e anglicanismo

O surgimento do Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo foi essencial na Reforma Protestante. Essas correntes teológicas desafiaram a autoridade da Igreja Católica, cada uma com suas ênfases doutrinárias e impacto na história religiosa e social da Europa.

LUTERANISMO

O Papa Leão X, que conduziu a Igreja entre 1513 a 1521, era um reconhecido mecena pródigo que comprometeu as finanças de Roma com extravagâncias artísticas e expedições militares contra o Islã, reforçou o comércio das indulgências, autorizado por seu antecessor, penhorou parte do patrimônio católico, praticou simonia e fez acordos com banqueiros para agilizar o comércio de indulgências em dioceses da Europa como forma de levantar fundos para a Igreja.

Em 1517, o padre dominicano Tetzel, pregador de indulgências, confrontou-se com o moralismo religioso do monge agostiniano Martinho Lutero de Wittenberg, o qual publicou 95 teses repudiando o poder de concessão de perdão medieval à venda de indulgências, defendendo que somente a fé em Cristo era instrumento de salvação; começava a Reforma Protestante. Lutero, que era próximo de Erasmo de Roterdã, não queria, em princípio, assim como o ilustre humanista, o rompimento da unidade da Igreja Católica. Contudo, o processo de Reforma Protestante acabaria ocorrendo quando o intransigente papado condenou Lutero pela bula Exsurge Domine (1520) e o excomungou pela bula Decet Romanum Pontificem (1521). Lutero, que queimou o primeiro documento em praça pública, reafirmou sua teologia e passou a enfrentar abertamente a Igreja em matéria de fé.  

Lutero não foi o primeiro reformista, mas sim o primeiro reformista bem-sucedido. A Reforma, que na realidade foi um cisma protestante, foi um projeto tentado sem sucesso por outros padres da Igreja Católica, como o inglês Jonh Wycliffe (1320-84) e John Huss (1369-1415), boêmio da atual República Tcheca. Wycliffe foi o precursor da teologia da predestinação e crítico das boas obras como instrumento de graça. John Huss, que pregava em tcheco e convidava os leigos a terem uma participação mais ativa na congregação, era uma espécie de herdeiro da teologia reformista de Wycliffe, condenando a veneração de imagens e considerando o papado um antro de “cavadores de ouro” pela sede de indulgências. O Concílio de Constança, em 1415, condenou ambos por heresia: Huss foi consumido pelo fogo em praça pública, e Wycliffe teve seus restos mortais retirados da terra consagrada do cemitério de Lutterworth.  

Por que Lutero obteve sucesso onde outros anteriormente falharam? O monge alemão obteve a simpatia e o apoio de parte da nobreza local. Frederico da Saxônia foi o grande protetor de Lutero, instalando-o em Wartburg, onde ficaria em segurança trabalhando em suas obras teológicas e na tradução da Bíblia para o alemão após ter sido condenado na Dieta de Worms (1521). O interesse da nobreza do Sacro Império Romano Germânico consistia em diminuir a influência da Igreja Católica na região e atingir a autoridade do Imperador católico Carlos V. O apoio da nobreza alemã foi reafirmado na Confissão de Augsburg, em 1531, quando os príncipes definiram sua unidade em torno do luteranismo. Estava, assim, garantida a sobrevivência da primeira grande religião cristã não católica da Europa Ocidental.  

A manutenção do luteranismo, entretanto, não foi feita sem resistências ou de maneira pacífica. A nobreza alemã associada ao imperador Carlos V manteve-se fiel ao catolicismo, iniciando as primeiras guerras de religião da Europa moderna. O equilíbrio entre as partes ficou evidente quando foi negociada a Paz de Augsburg (1555), na qual o princípio de “tal príncipe, tal religião”, estabelecia que a religião local seria determinada pela autoridade secular, e não mais pela religiosa. Era uma derrota para a Igreja Católica, não somente pela sobrevivência e permanência do luteranismo, mas também pelo reconhecimento de que a autoridade civil do príncipe determinava o credo dos súditos.  

Durante as guerras de religião da Alemanha, Lutero revelou seu lado mais conservador e medieval, ao condenar as revoltas camponesas contra a exploração da aristocracia. Lutero invocou a divisão social como divina e exortou os nobres a executarem os camponeses que se rebelavam contra as autoridades. Lutero não era um revolucionário em termos sociais, mas um teólogo reformista e conservador em matéria social. A repressão foi também o tratamento dispensado pelos cavaleiros alemães aos anabatistas, seita surgida na mesma época, que pregava um cristianismo primitivo, baseado na divisão da propriedade e na inexistência de hierarquias.

Observação: Anabatismo

Ocorreu no Sacro Império e foi liderado por Thomas Muntzer. Tinha como base social a luta camponesa e de pequenos artesãos, que se constituíram como seguidores mais radicais de Martinho Lutero (Sacro Império). Eles acreditavam que a desigualdade política e social não era apenas injusta como pecaminosa, com isso, eles desejavam a abolição da servidão e fim dos latifúndios. Por isso, eles queimaram castelos e conventos. Em contrapartida, Lutero condenou o movimento e o exército da nobreza contém os revoltosos decapitando Muntzer.

CALVINISMO

O protestantismo começou a se alastrar pela Europa como um rastilho de pólvora. Na região da Suíça, outro membro da Igreja Católica, João Calvino, publicou em 1536, sua Instituição Cristã, estabelecendo as bases de uma reforma que é associada pela historiografia à burguesia nascente. Assim como Lutero negava o valor das indulgências, advogando que somente pela fé em Cristo poderia ser obtida a salvação, Calvino acreditava que a graça cabia exclusivamente a Deus, sendo muita pretensão esperar que boas ações poderiam alterar um destino determinado pelo Criador. Estavam sendo alicerçados os pilares da teologia da predestinação que Wycliff defendera há 150 anos. Calvino dizia que a vida era o bem mais precioso que Deus concedera ao homem, portanto, deveria ser aproveitada em sua plenitude na glorificação do Senhor. O ócio era tratado como pecado mortal e o trabalho a melhor forma de completar a obra do Criador de modo desinteressado. O enriquecimento pelo trabalho era visto como um sinal de predestinação. O sociólogo alemão Max Weber, em dois dos mais memoráveis livros do século XIX, estabeleceu em A Ética Protestante e o espírito do Capitalismo a hipótese que associa o desenvolvimento econômico da América do Norte com a colonização presbiteriana, grupo protestante surgido a partir do calvinismo.  

ANGLICANISMO

Na Inglaterra, o monarca Henrique VIII (1509-47), pelo Ato de Supremacia de 1534, romperia com a Igreja Católica, estabelecendo uma Igreja Nacional Anglicana subordinada ao Estado. A alegação do rei para promover a cisão com Roma foi a negativa do Papa Clemente VII em conceder a licença para o divórcio com Catarina de Aragão. A historiografia atual, entretanto, interpreta a decisão de Henrique VIII, que casou seis vezes e mandou decapitar duas esposas, como uma forma de promover a centralização do Estado Nacional inglês, o qual carecia de meios materiais para seu poder, sobretudo pela influência e riqueza que o clero católico ostentava no país. Os tributos pagos em terras da Igreja na Inglaterra, por exemplo, eram revertidos diretamente para Roma, e não para Londres. A Igreja Anglicana, subordinada ao Estado inglês, herdava os bens da Igreja Católica nacionalizados pelo Ato de Supremacia. Na Inglaterra, nos séculos seguintes, não somente católicos e protestantes travariam batalhas militares e políticas, mas também anglicanos contra demais grupos protestantes.

Durante o período de Eduardo VII (1547 – 1553) houve a aproximação ao calvinismo. Entretanto, Mary Tudor (1553 – 1558), católica fervorosa, obrigou o parlamento o retorno ao Catolicismo. Posteriormente, casou-se com Felipe II (príncipe espanhol e católico fanático), mandou queimar 300 hereges protestantes (apelidada de Mary Blood) e aprisionou sua irmã Elizabeth na torre de Londres. Porém, Elizabeth I (1558 – 1603) estabeleceu o 2º Ato de Supremacia, com isso, consolidando o anglicanismo.

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