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Reformas religiosas: Contexto

A Reforma Protestante pode ser definida como o movimento de quebra da unidade da Igreja Católica Romana no Ocidente. Os antecedentes da Reforma estão intimamente ligados aos vícios de parte do clero católico, sobretudo da alta hierarquia, comprometendo a imagem da Instituição. A Igreja que combatia o Islã e patrocinava os maiores gênios criativos do Renascimento italiano era também a instituição da simonia, do nepotismo e da questionável prática de venda de indulgências.

A Igreja Católica do final da Idade Média não era apenas uma organização religiosa. Com a ausência do Estado Nacional centralizado, Roma passou a exercer um poder político de fato. As famílias mais importantes da Itália — Barberini, Bórgia e Médici — disputavam o papado através da utilização dos instrumentos mais ilícitos possíveis, dentre os quais podemos citar o tráfico de influência e a violência. Ser Papa significava ocupar o cargo religioso e político mais importante do mundo ocidental, pois era uma época em que os  monarcas ainda não haviam consolidado seus poderes e exércitos nacionais. Os reis ainda se prostravam ao Sumo Pontífice em sinal de submissão política e reconhecimento religioso.  

Apesar de boa parte do clero católico poder ser identificada com a moderação, dedicação ao sacerdócio, seriedade e vocação, aqueles indivíduos que utilizavam sua posição dentro da Igreja para obter vantagens materiais e pessoais acabaram por comprometer a imagem da Instituição. O péssimo exemplo não poupava nem ao menos o trono de Pedro. O Papa Alexandre VI, que esteve à frente da Igreja entre 1492 a 1503, levou uma vida promíscua, sendo pai antes e depois de se tornar Papa, comprando 17 dos 22 votos dos cardeais para sua eleição como Sumo Pontífice, além de delegar temporariamente o papado para sua filha, Lucrécia, cujo nome se tornou sinônimo de mulheres de vida promíscua. Júlio II, Papa entre 1503 a 1513, foi simoníaco, pai de três filhas reconhecidas, vendeu indulgências para financiar o projeto da Basílica de São Pedro e, de espada em punho e armadura, atacou Perugia e Bolonha em 1506.  

A Reforma Protestante foi apresentada pela construção historiográfica do século XIX como um movimento burguês ascendente. Houve, ainda, uma tentativa de associar a Reforma aos interesses da nobreza e dos Estados Nacionais em anular a influência da Igreja Católica. Até mesmo os camponeses, submetidos aos dízimos e obrigações feudais, foram envolvidos em explicações simples que ignoravam o mais importante: a Reforma Protestante nasceu dentro da Igreja Católica.  

Os vícios da Igreja foram criticados pelos padres humanistas, dentre os quais Erasmo de Roterdã foi o mais conhecido. Os humanistas, entretanto, não queriam romper a unidade da Igreja, tampouco destruí-la. Seu desejo residia exclusivamente em convocar um concílio ecumênico, corrigir os vícios do clero católico e reformá-lo no sentido de alterar certas práticas sem, entretanto, dividi-lo. Os humanistas criticavam o celibato clerical, a manutenção das Escrituras em latim, bem como a liturgia celebrada em língua morta. Erasmo queria uma Igreja em comunhão direta com fiéis.  

A negociata de cargos dentro da hierarquia católica e a indicação de parentes não foram os únicos vícios existentes dentro da Igreja Romana às vésperas da Reforma. Um clero apedeuta, muitas vezes analfabeto, que não sabia administrar os sacramentos, que desrespeitava abertamente o voto do celibato e notoriamente gozava de um materialismo de príncipes, despertava a crítica dos mais ilustrados padres da época. Os clérigos afastados do exemplo de Jesus Cristo e dos preceitos impostos a Pedro provocaram a Reforma.  

O problema das indulgências foi o mais célebre catalisador do movimento reformista. As indulgências foram idealizadas segundo o modelo de teologia católica que defendia a salvação do fiel através da fé em Cristo e das boas obras, isto é, boas ações que englobavam a caridade, o amor ao próximo e a prestação de serviços para a Igreja. A vida terrena, idealizada pelo homem medieval como um momento de transição para a verdadeira vida eterna, era, portanto, um breve momento de provações, atos de fé e desprendimento material em favor da Igreja Católica. Eleger a Igreja como herdeira de bens materiais adquiridos em vida era forma comum de obtenção de graça.  

Na Idade Média, as indulgências consistiam, basicamente, na prestação de serviços para a Igreja Católica, tal como a caridade ou o trabalho dedicado de modo desprendido pelos camponeses para os padres. No período das Cruzadas, as indulgências também eram obtidas através da luta dos católicos contra os infiéis no Mediterrâneo. Participar de uma Cruzada era um meio de obter a salvação. O cineasta sueco Ingmar Bergman captou este universo medieval católico de modo espetacular em dois clássicos dos anos de 1960: O Sétimo Selo e A Fonte da Donzela.

O Renascimento Comercial e Urbano, entretanto, revolucionou a estagnada economia europeia através da necessidade do desenvolvimento do meio circulante para a manutenção de um revigorado comércio com o Oriente via mar Mediterrâneo. As Cruzadas, símbolo maior da unidade europeia em torno do catolicismo, provocaram, inadvertidamente, uma alteração nos padrões econômicos do continente que atingiram o modo de ostentar riqueza e a própria prática da salvação pelas boas obras.  

As indulgências paulatinamente deixaram de ser meras prestações de serviços para a Igreja Católica para se converterem em um comércio de supostos objetos sagrados. A Igreja vendia relíquias sagradas, como pertences atribuídos ao uso pessoal do próprio Cristo, restos mortais de mártires beatificados ou canonizados e, finalmente, certificados de salvação. Estes últimos passaram a ser comercializados em casas bancárias, por exemplo, pelo grupo de Jacob Függer.

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