Em nossas atividades comunicativas, são incontáveis as vezes em que não somente lemos textos diversos, como também produzimos ou ouvimos enunciados, tais como: “acabei de escrever um artigo”, “recebi um e-mail”, “achei o anúncio interessante”, “a carta é bem romântica”, “fiz um resumo do filme”, “a poesia é muito linda”, “a piada foi sem graça”, “que tirinha engraçada!”, “ a lista é muito grande”.
A lista é muito grande mesmo, meu aluno! Os estudiosos que tentaram fazer um levantamento da quantidade e da classificação de gêneros textuais desistiram de fazê-lo, pois os gêneros, como práticas sociais e comunicativas, são dinâmicos e sofrem muitas variações na sua constituição, resultando em novos gêneros.
No nosso dia a dia, meu aluno, desenvolvemos uma capacidade de associação de inúmeros gêneros que se encontram ao nosso redor. Isso permite a interação de cada um deles da forma mais conveniente, à medida que nós vamos nos envolvendo nas diversas práticas sociais e comunicativas. A autora Ingedore Villaça Koch chama essa capacidade de associação de competência metagenérica.
É exatamente essa competência que permite a produção e a compreensão de gêneros textuais diversos, ou seja, ela orienta a produção de nossas práticas comunicativas e possibilita o entendimento sobre os gêneros textuais efetivamente produzidos. Vejamos alguns exemplos:

Nesse texto 1, é possível perceber a existência de dois gêneros distintos: o blog e o recado. O blog é uma prática decorrente da variação do diário, assim como o e-mail é uma variação da carta. Ambos são propiciados pelas recentes invenções tecnológicas.
Texto 2

O texto 2 apresenta o gênero piada. Ela é, em geral, uma história curta que tem por finalidade causar risos ou gargalhadas no leitor ou ouvinte.
Texto 3

No texto 3, encontramos o gênero currículo, meu aluno. É um texto em que são relatadas as experiências profissionais de uma pessoa e a trajetória educacional, como forma de demostrar suas habilidades e competências.
Podemos afirmar que, todos nós, falantes/ ouvintes, escritores/ leitores, construímos, ao longo de nossa vida, uma competência metagenérica, que permite reconhecer e criar os diversos gêneros textuais existentes, principalmente os de que mais necessitamos.
É exatamente essa competência, meu aluno, que nos propicia a escolha adequada do que produzir textualmente nas situações comunicativas de que participamos. Por essa razão, não contamos, como regra geral, piadas em velórios, nem cantamos hino do nosso time de futebol em um evento destinado à Proclamação da República, nem fazemos preleções (palestra) em mesa de bar.
Cada gênero textual, meu aluno, vai se valer, para a sua composição, de algumas sequências textuais padronizadas que levarão a um modo de organização, isto é, a uma estruturação do texto. Isso permite construir e reconhecer as sequências de alguns tipos textuais, tais como: o narrativo, o descritivo, o injuntivo, o dialogal, o expositivo e o argumentativo.
A poesia, por exemplo, é estruturada em estrofes e versos, com rimas ou sem rimas; por sua vez, o artigo de opinião é estruturado em torno de um ponto de vista e da argumentação em sua defesa; e a tirinha é estruturada em enunciados curtos, apresentados em balões, para evidenciar a “fala” de personagens, destacando nessa composição a mistura entre texto verbal e não-verbal. Vejamos:
POESIA

ARTIGO DE OPINIÃO

Nunca se discutiu e se viu tanto sobre a sustentabilidade como nos últimos tempos. A questão do aquecimento global, o consumo responsável, o respeito ao meio ambiente são questões sempre abordadas quando se trata desta temática.
Segundo algumas enciclopédias virtuais, sustentabilidade é ‘um conceito sistêmico’ e diz respeito à ‘continuidade dos aspectos econômicos, sociais culturais e ambientais da sociedade humana’. Na prática, esse conceito representa atuar nos setores seja ele, industrial, comercial, social – de forma a prejudicar o menos possível o “equilíbrio” existente entre a população e os nossos recursos dependentes da natureza. Porém, pensamos que não pode ser simples, e que pode resultar em longos trabalhos. Logo, para se tornar um ‘cidadão sustentável’ é bem mais simples do que pensamos. Um exemplo está na simplicidade de ajudar a manter a cidade limpa não jogando lixo no chão.
TIRINHA

As sequências narrativas apresentam sucessão temporal, isto é, há sempre um antes e um depois, uma situação inicial e uma situação final, entre as quais ocorre algum tipo de modificação de um estado de coisas.
Há predominância dos verbos de ação, sobretudo no pretérito perfeito do modo indicativo, bem como de adjuntos adverbiais de tempo, causa e, também, lugar. É frequente a presença do discurso relatado (direto, indireto e indireto livre). Predominam nos relatos de qualquer espécie, em notícias, romances, contos, etc. Vejamos:
Exemplo de texto narrativo:
MILOCA
Um dia, em frente da casa, caiu uma preta velha ao chão, abalroada por um tílburi. Adolfo, que ia a entrar, correu à infeliz, levantou-a nos braços e levou-a à botica da esquina, onde a deixou curada.
Agradeceu ao céu o ter-lhe proporcionado o ensejo de uma bela ação diante de Miloca, que estava à janela com a família, e subiu alegremente as escadas. D. Pulquéria abraçou o herói; Miloca mal lhe estendeu a ponta dos dedos.
(Machado de Assis)
As sequências descritivas, meu aluno, caracterizam-se pela apresentação de elementos que auxiliam na formação de uma imagem. Nela predominam os verbos de estado e situação, ou aqueles que indicam propriedades, qualidades, atitudes, predominam também articuladores de tipo espacial ou situacional. Vejamos:
Exemplo de texto descritivo:
“Quaresma era um homem pequeno, magro, que usava pincenez, olhava sempre baixo, mas, quando fixava alguém ou alguma cousa, os seus olhos tomavam, por detrás das lentes, um forte brilho de penetração, e era como se ele quisesse ir à alma da pessoa ou da cousa que fixava. Contudo, sempre os trazia baixos, como se se guiasse pela ponta do cavanhaque que lhe enfeitava o queixo. Vestia-se sempre de fraque, preto, azul, ou de cinza, de pano listrado, mas sempre de fraque, e era raro que não se cobrisse com uma cartola de abas curtas e muito alta, feita segundo um figurino antigo de que ele sabia com precisão a época.”
(fragmento) (O Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto, 1915)
As sequências injuntivas são aquelas em que autor tem como objetivo fazer com que o leitor exerça determinadas atitudes, ou seja, é aquela sequência que evidencia uma ordem, um comando. Por essa razão, é possível perceber a predominância de verbos no imperativo, meu aluno. Vejamos um exemplo:
10 LARANJAS
Modo de preparo:
1. Corte as laranjas ao meio.
6. Sirva em seguida.
2. Em uma jarra grande, esprema todas elas para extrair o líquido.
3. Retire as sementes.
Fanta natural:
4. Coloque toda a água e adicione o açúcar para adoçar (de acordo com seu gosto).
5. Mexa bem.
Ingredientes:
1 litro de água gelada
Açúcar a gosto
As sequências dialogais são marcadas por falas alternadas que caracterizam um diálogo. É produzida por no mínimo dois locutores, cuja conversa pode ser composta por perguntas e respostas. Vale a pena ressaltar que o texto dialogal não apresenta a figurado narrador. Vejamos:
FAUSTINO E MARICOTA
FAUSTINO – Gazear a repartição o modelo dos empregados? Enganaram-te. Quando lá não vou, é ou por doente ou por ter mandado parte de doente …
MARICOTA – E hoje que é dia de trabalho, mandou parte?
FAUSTINO – Hoje? Ah, não me fales nisso, que me desespero e alucino! Por tua causa sou a vítima mais infeliz da Guarda Nacional!
MARICOTA – Por minha causa?!
FAUSTINO – Sim, sim, por tua causa! O capitão da minha companhia, o mais feroz capitão que tem aparecido no mundo, depois que se inventou a Guarda Nacional, persegue-me, acabrunha-me e assassina-me!
As sequências expositivas são evidenciadas pelo predomínio da informação, apresentando uma análise ou síntese de representações conceituais numa ordenação lógica. Vejamos:
“Pacientes que seguem uma dieta pobre em gordura têm mais ganhos no humor do que aqueles que seguem uma alimentação com baixa quantidade de carboidratos e o mesmo número de calorias. A pesquisa saiu no ‘Jama’”.
“O Brasil foi descoberto no período das Grandes Navegações, quando Portugal e Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras. Já em 1492, poucos anos antes, Cristóvão Colombo, navegando pela Espanha, chegara à América, o que ampliou as expectativas dos exploradores.”
As sequências argumentativas são aquelas que apresentam uma ordenação ideológica de argumentos e/ou contra-argumentos. Nelas predominam verbos modalizadores, verbos introdutores de opinião, operadores argumentativos, etc. A finalidade principal é o convencimento. Vejamos um exemplo:
“Depois de registrar no currículo fitas adoráveis como Toy Story, (Procurando Nemo e Ratatouille), a Pixar marca mais um golaço no terreno da animação. É curioso notar que, a cada trabalho, o estúdio traz renovações na técnica e depura seus roteiros bastante originais. A empreitada aqui poderia não dar certo: os dois protagonistas, um velhinho rabugento e um garotinho mala sem alça, são a principio enjeitados e nada fofos. Mas o diretor do igualmente fascinante Monstros S.A. consegue combinar, com ótimo faro, humor delicioso, aventura empolgante, drama comovente e fantasia surreal.”