PARÁGRAFO DE DESENVOLVIMENTO
Sem dúvida alguma, esta é a parte mais relevante da redação para concursos: o desenvolvimento. É no desenvolvimento que fazemos o texto progredir como um todo, é nesta parte que o redator aprofunda seus conhecimentos acerca do tema. Tudo isso deve ser feito com respeito à estrutura, pois devemos nos atentar para a simetria estrutural dos parágrafos.
Enquanto a introdução e a conclusão são compostas apenas por um parágrafo cada uma, o desenvolvimento apresenta, em geral, de dois a três parágrafos nas redações que exigem entre 20 e 30 linhas. Sendo preciso, é melhor aumentar a quantidade de parágrafos de desenvolvimento do que simplesmente redigir parágrafos muito longos, pois um dos critérios avaliados pelos corretores é a simetria entre parágrafos, conforme citado acima.
Os conteúdos dos parágrafos de desenvolvimento dependem basicamente do tipo de dissertação redigida: expositiva ou argumentativa.
PARÁGRAFOS EXPOSITIVOS
Em geral, sobretudo nos concursos militares, meu aluno, a dissertação exigida é a argumentativa, por essa razão não iremos aprofundar muito o desenvolvimento de um parágrafo expositivo.
Esses parágrafos têm uma finalidade meramente informativa, preferindo a exposição de dados concernentes ao tema exigido pela banca.
A redação de textos dessa natureza, geralmente, é mais fácil, pois exige menos subjetividade por parte do autor.
PARÁGRAFOS ARGUMENTATIVOS
Esse parágrafo tem por finalidade o convencimento, apresentando mais espaço para subjetividades, dado seu caráter mais aberto à visão do autor. Deve-se tomar cuidado com o objetivo desse texto, pois isso pode ocasionar prejuízos à impessoalidade textual, ganhando um tom inflamado, repleto de frases prontas, figuras de linguagem e recursos expressivos demasiados, como exclamações e interjeições.
Isso ocorre, normalmente, quando o candidato não faz um planejamento antes de começar a redação, deixando-se levar por seus instintos e pelas primeiras ideias que lhe veem à mente no ato da escrita. Além disso, um texto sem planejamento se torna muito confuso, misturando mais de um argumento em um mesmo parágrafo. Em vez de escrever sobre tudo o que se sabe, o ideal é selecionar um número de argumentos equivalente ao número de parágrafos de desenvolvimento que você pretende produzir, aprofundando cada argumento dentro do próprio parágrafo.
Vale a penas salientar, para que não haja nenhuma dúvida, meu aluno, que argumento é o que se utiliza para defender a tese, ou seja, é aquilo que defende uma tese (ponto de vista), a qual deve estar claramente expressa nos parágrafos de introdução e conclusão. Um argumento é, portanto, o porquê da tese ou uma evidencia de sua validade.
TIPOS DE ARGUMENTO
Argumentação por causa e consequência
Uma maneira eficaz de defender um ponto de vista é apresentar as causas que levaram você, a se posicionar daquela forma. Esse é um dos argumentos mais presentes, visto que argumentar é, justamente, dizer os porquês que sustentam sua tese. Observemos um exemplo:
No Brasil, desde a Constituição Federal de 1988, não se encontram políticas públicas eficazes que garantam a entrada do jovem ao mercado de trabalho. Após o término de uma faculdade, a grande maioria fica perdida sem saber o que fazer e para onde ir. Muitos ficam na expectativa de que irão ser absorvidos pelos setores trabalhistas para iniciar um estágio específico em sua área, porém isso quase sempre não acontece.
Assim, boa parte dos recém-formados em uma faculdade está desempregada ou subempregada, evidenciando o reflexo das dificuldades que os jovens enfrentam para ingressar mercado de trabalho. Esse triste cenário só vem aumentando ano após ano, governo após governo.
No trecho acima, pode-se observar a seguinte tese defendida pelo autor: “Assim, boa parte dos recém-formados em uma faculdade está desempregada ou subempregada, evidenciando o reflexo das dificuldades que os jovens enfrentam para ingressar mercado de trabalho”. Veja que, para apresentar essa ideia, foi utilizado o vocábulo “assim”, conectivo de valor conclusivo. Essa conclusão é derivada de dois argumentos causais, que justificam como o autor do texto chegou a essa tese: “No Brasil, desde a Constituição Federal de 1988, não se encontram políticas públicas eficazes que garantam a entrada do jovem ao mercado de trabalho”; e “Após o término de uma faculdade, a grande maioria fica perdida sem saber o que fazer e para onde ir”.
O raciocínio que o redator propões é este: se, no Brasil, não há políticas públicas eficazes que garantam a entrada do jovem no mercado de trabalho e boa parte desses jovens ficam perdidos sem saber o que fazer e para onde ir, então boa parte desses recém-formados se encontra desempregada ou subempregada. Observe que a partir dos argumentos causais, formulou-se uma tese conclusiva/consecutiva (consequência).
Entretanto, devemos tomar cuidado para não expressar uma falsa relação de causa e efeito entre fatos que são apenas próximos, mas não desencadeadores um do outro. Esse é um erro muito frequente, relacionado a uma incorreta concatenação lógica das ideias, também chamada de sofisma.
Argumentação por autoridade ou informações de terceiros
A argumentação por autoridade, meu aluno, é realizada por meio da demonstração de opiniões de pessoas “consideradas autoridades” para a ideia proposta no tema do texto. Inclusive, podemos observar isso em um texto já utilizado em prova. Vejamos agora o texto e a utilização do argumento de autoridade.
Individualistas e comportados. E daí?
Cientistas sociais e filósofos de inúmeras correntes garantem: a geração de 90 é ambígua. Explica-se: os adolescentes dessa época buscam o bem-estar individual mas também consideram o conceito “viver dignamente” como um direito da humanidade. Só que eles não pretendem se fatigar nas lutas sociais, nem se sentem atraídos por bandeiras políticas ou cartilhas ideológicas. Em uma pesquisa recente na França, o item “justiça social” foi classificado como um dos menos importantes por moças e rapazes na faixa dos 14 aos 17 anos. Imediatamente, a geração que ouve Madonna, diverte-se com Steven Spielberg e devora sanduíches passou a ser chamada de “novos individualistas”. O filósofo e escritor francês Laurent Joffrin, autor do livro Um toque de Juventude, celebra com muito otimismo os “moralistas de bluejeans: “eles não são apáticos como se supõe. Seus interesses vão além do prazer imediato e da pura distração”, explica Joffrin. Mais cético, seu colega Alain Finkelkraut acredita que os jovens dos anos 90 se apoiam em relacionamentos superficiais e valores distorcidos. “Comportam-se como se a vida fosse um grande videoclip…”, lamenta. Enquanto os intelectuais batem boca, os ingleses que cresceram ouvindo a balada conservadora de Margareth Thatcher hoje insistem que a vida comportada é muito melhor. Em um pesquisa da revista Look Now, moças e rapazes de 15 a 24 anos confessam gostar de boas roupas, querem ser vistos como pessoas sensíveis e responsáveis, pretendem ter uma carreira sólida e fazer fortuna. Desnecessário dizer que a Dama de Ferro adorou os resultados da pesquisa.
Laura Greenghalg – Sociedade dos Poetas Vivos, In:Elle, ago/1998 p. 35 (com adaptações).
Observe que os trechos em negrito são todos considerados argumentos de autoridade, pois o autor tem como objetivo tornar o seu texto mais convincente e para isso não se utiliza apenas das falas de cada indivíduo citado no texto, mas também das funções que lhe conferem esta autoridade, uma vez que a pessoa citada no texto pode não ser conhecida do leitor. Assim é possível constatar que não é apenas o nome do indivíduo que caracteriza a autoridade, e sim a importância que esse indivíduo traz ao tema apresentado. Da mesma maneira isso acontece com o uso de pesquisas que conferem veracidade às informações apresentadas.
Argumentação por apresentação de dados estatísticos
Este tipo de estratégia argumentativa é feito por meio da apresentação de dados estatísticos e, assim como as outras estratégias, serve para provar aquilo que é dito no texto. Geralmente, os dados utilizados são oriundos de pesquisas de órgãos públicos habilitados para a divulgação de tais dados. Vejamos o texto abaixo:
“O ministro da Educação, Cristovam Buarque, lança hoje o Mapa da Exclusão Educacional. O estudo do Inep, feito a partir de dados do IBGE e do Censo Educacional do Ministério da Educação, mostra o número de crianças de sete a catorze anos que estão fora das escolas em cada estado. Segundo o mapa, no Brasil, 1,4 milhão de crianças, ou 5,5 % da população nessa faixa etária (sete a catorze anos), para a qual o ensino é obrigatório, não frequentam as salas de aula. O pior índice é do Amazonas: 16,8% das crianças do estado, ou 92,8 mil, estão fora da escola. O melhor, o Distrito Federal, com apenas 2,3% (7 200) de crianças excluídas, seguido por Rio Grande do Sul, com 2,7% (39 mil) e São Paulo, com 3,2% (168,7 mil).”
(Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 3.12.2003)
Argumentação por exemplos
Este tipo de argumentação é realizado por meio de exemplos que elucidam ou justificam a ideia apresentada na tese. Um bom exemplo fundamenta a argumentação, pois pode relatar casos que sustentam a tese como verdadeira. Vejamos o texto a seguir:
O Brasil das cabeças desarrumadas
Elio Gaspari (O Globo)
O resultado do referendo fez um bem ao país. Instaurou o império das cabeças desarrumadas, e o Brasil precisa delas.
Uma pessoa de cabeça desarrumada é assim: defende a pena de morte e o ensino gratuito nas universidades públicas. É a favor do aborto e se diz católico. Votou Lula em 2002 e José Serra em 2004. É contra as cotas nas universidades e milita numa Ong de defesa da Mata Atlântica. Por desarrumada, essa cabeça pode pensar tudo ao contrário e não faz a menor diferença. A desarrumação determina e incentiva o debate. Opõe-se a um mundo de ideias ordenadas no qual a pessoa deve se preocupar em “pensar direito”, entendendo-se que sempre haverá alguém explicando o que vem a ser “pensar direito”.
Houve uma época em que a expressão “raciocinar em bloco” designava, com alguma ironia, inteligências ou culturas privilegiadas, sacerdotes do bem-pensar. Aceitando-se as virtudes do mestre, esperava-se sua opinião e ia-se atrás. Essa atitude tanto pode colocar uma pessoa na condição de discípulo de um grande pensador como pode embalá-la na treva da ignorância. O segundo caso ocorre com maior frequência.
As cabeças arrumadas brasileiras, atraídas pela construção de modelos intelectuais harmônicos, dão pouca atenção ao funcionamento da sociedade. Preferem evitar o assunto. Alguns exemplos.
O bem-pensar urbano do Rio de Janeiro legislou que é proibido construir apartamentos com menos de 30 metros quadrados. Coisa de gente muito bem educada. Faltou dizer onde vai morar uma família que não tem dinheiro para essa metragem. Na favela, por certo. A discussão dessa lei de incentivo à favelização está fora do debate urbano carioca.
O bem-pensar tributário estabeleceu que os serviços de telefonia devem ser taxados com mão-de-ferro, pois vai-se tomar dinheiro do andar de cima para custear investimentos que atenderão ao de baixo. Deu no seguinte: o patrão fala com Paris de graça pelo Skype e a empregada paga R$ 5 por um telefonema de dez minutos para Bangu. Um imposto destinado a buscar justiça produz injustiça, mas o tema está fora da agenda dos teletecas.
O bem-pensar diplomático levou Lula a propor uma cruzada mundial contra a fome. Fez isso em Genebra, Paris e Nova York. Passados dois anos, contou que gostaria de arrumar recursos para combater a desnutrição da África, aumentando as taxas de embarque nos aeroportos brasileiros. Falta dizer aos usuários do Galeão que eles pagam uma das taxas mais altas do mundo, o dobro do que se cobra no Aeroporto Kennedy.
Num caso mais farisaico, tome-se o exemplo da legislação penal brasileira. Bem pensada, faz inveja a um advogado sueco. São muitos os doutores que fazem palestras pelo mundo descrevendo essa joia de modernidade. Jamais um ministro da Justiça contará que as maravilhas são parolas. O que vale mesmo é a lei da massa. O bandido que entra na prisão passa a uma nova instância judicial, a de seus pares. Maltratou a mãe? Morre. Estupro? Se não morrer, sofre o que fez. Respeito, só para os estelionatários.
No Brasil das cabeças desarrumadas cada tema poderá ser discutido e avaliado isoladamente. Muitas opiniões resultarão contraditórias, mas é esse exercício do juízo individual que enriquece o debate público.
Harmonia e nexo podem ser desejáveis, mas é preferível conviver com pessoas de cabeça desarrumada cujas opiniões não formam um nexo final do que aturar gente que tem muito nexo mas não se responsabiliza pelas opiniões que dá.
Os trechos em negrito são argumentos exemplificativos que têm como objetivo mostrar a veracidade da tese apresentada no primeiro parágrafo (O resultado do referendo fez um bem ao país. Instaurou o império das cabeças desarrumadas, e o Brasil precisa delas.), comprovando o posicionamento do autor do texto.