A ORIGEM DO MOVIMENTO TENENTISTA
Em 1922, nas eleições para sucessão presidencial, Minas e São Paulo já haviam decidido pelo nome do mineiro Artur Bernardes para a Presidência, e também já haviam acertado a candidatura do próximo presidente, a figura de Washington Luís, representante do PRM como sucessor de Bernardes. Contra esse arranjo político, os estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, se uniram e formaram assim a Reação Republicana, apresentando o fluminense Nilo Peçanha para concorrer com Bernardes.
O Exército inclinou-se contra a oligarquia dominante do café-com-leite e decidiu apoiar a candidatura de Nilo Peçanha. As disputas acirradas criaram um clima de grande tensão, agravada pela publicação, no jornal Correio da Manhã, no dia 09 de Outubro de 1921, de uma carta ofensiva aos militares, falsamente atribuída a Artur Bernardes. Na carta, Bernardes teria chamado o marechal Hermes da Fonseca, de um “sargentão sem compostura” e também chamava os integrantes do exército de pessoas “venais”, ou seja, de militares vendidos, o que levou os militares exigirem que Artur Bernardes renunciasse a sua candidatura.
Apurada as urnas, o vencedor em 1º de março de 1922 foi Artur Bernardes. Enquanto o novo presidente aguardava o dia de sua posse, duas ocasiões geraram tensões entre os aliados de Bernardes e os militares. No mês de maio, o primeiro incidente foi a luta armada entre os seguidores de Nilo Peçanha e Artur Bernardes. O presidente do Clube Militar, o marechal Hermes da Fonseca, decidiu apoiar os partidários de Nilo Peçanha. Em resposta, o governo ordenou o fechamento do Clube Militar e decretou a prisão de Marechal Hermes.
No dia 5 de julho de 1922, três dias depois de decretada a prisão de Hermes, cerca de 302 oficiais do exército rebelaram-se no forte Copacabana, recebendo o apoio das guarnições do Distrito Federal, do Rio de Janeiro e de Mato Grosso, e com o objetivo de impedir a posse de Artur Bernardes. Uma força de 3000 homens do exército legalista foi enviada, para reprimir o movimento de revolta. Cercados, muitos oficiais rebelados decidiram desistir da revolta, se rendendo as forças legalistas.

Na foto, a marcha heroica e ao mesmo tempo suicida dos “18 do Forte”. Foto de julho de 1922.
Acervo Iconographia/Reminiscências
Embora a rebelião tenha fracassado, cerca de 17 jovens militares resolveram abandonar o forte e marchar pela praia de Copacabana para enfrentar as forças legalistas, numa atitude suicida. Ao longo do seu trajeto, os revolucionários receberam o apoio de Otávio Correia, um civil que defendia também a proposta dos tenentes em acabar com o domínio das oligarquias do café-com-leite. Na trajetória pelas ruas de Copacabana, os 18 homens enfrentaram as forças legalistas, da qual sobreviveram apenas os tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos. Esse episódio ficou conhecido como “os 18 do Forte”, e sua trajetória heroica deu origem ao movimento chamado de tenentismo.
O PROGRAMA DE AÇÃO DOS TENENTES
Além da saída de Artur Bernardes, os tenentes reivindicavam o voto secreto, a realização de eleições honestas, punições severas para os políticos corruptos e liberdade para os oficiais presos do movimento de 1922. Dessa forma, acreditavam que esse programa teria o apoio da população do interior do Brasil. Os tenentes eram conservadores, não propunham mudanças significativas para a estrutura social brasileira. Defendiam um reformismo social ingênuo, misturado com nacionalismo e centralização política.
A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922
O espírito de contestação na sociedade brasileira também atingiu os setores culturais do Brasil. Foi nesse período que surgiu no Brasil, o movimento modernista, que desejava a remodelação da arte brasileira. No mês de fevereiro, o Teatro Municipal de São Paulo foi palco da Semana de Arte Moderna. Um grupo de jovens artistas divulgava uma nova tendência cultural e artística para a sociedade brasileira.
O movimento modernista tinha duas vertentes. Havia um grupo que queria romper com todas as representações e submissões a cultura europeia e as desgastadas bases artísticas então em moda, como a poesia parnasiana. Com o interesse de dar liberdade a circulação cultural, esta vertente queria uma cultura com livre circulação artística e cultural.
A outra vertente estava numa discussão em produzir uma cultura baseada no Futurismo – com uma exaltação da técnica, do movimento e da velocidade – e o Primitivismo, com uma busca por expressão cultural mais “pura”, sem influências da civilização europeia e com algo mais autêntico. Essa busca primitiva passava por investigações sobre o inconsciente, se aproximando do Surrealismo.

Grupo de Modernistas em São Paulo. Na foto, de 1922, Tarsila do Amaral é a 3ª e Oswald de Andrade aparece no centro, ao fundo.
Os principais nomes do movimento modernista brasileiro foram Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Heitor Villa-Lobos. Entretanto, esse movimento dos jovens artistas tinha uma contradição, buscava uma visão autêntica, mas tinha como base a produção cultural europeia, que dava base ao movimento modernista brasileiro.
Para enfrentar esse dilema, Oswald de Andrade lançou em 1924 o Manifesto da Poesia do Pau-Brasil, dando início ao movimento antropofágico, que fazia parte de aceitar a cultura estrangeira, desde que ela fosse “devorada” e “digerida” internamente, sendo assim reelaborada a ponto de poder transformar-se em produto nacional autêntico.
Com isso, o Modernismo deu origem a outro ramo radicalmente nacionalista: o verde-amarelismo, que tendia francamente para a direita com traços de xenofobia, tendo como um dos seus principais expoentes o futuro líder integralista Plínio Salgado.
A COLUNA PRESTES
Durante o governo de Artur Bernardes, desde o início, o presidente conheceu a instabilidade política. Dois anos depois do 18 do forte, houve o “segundo 5 de julho”, homenageando os esforços tenentes do Rio de janeiro com uma nova revolução em São Paulo no ano de 1924. Em Outubro, no Rio Grande do Sul as forças tenentes se organizaram e eclodiram novos levantes militares, sendo vista como uma continuação dos “18 do Forte”. Os tenentes gaúchos se dirigiram para o Norte (Santa Catarina e Paraná), enquanto que em São Paulo a revolta dos tenentes paulistas foi liderada pelo general Isidoro Dias Lopes, que devido à pressão das tropas legalistas, os revoltosos paulistas foram forçados a migrarem para o sul se aliando ao movimento dos tenentes sulistas.
Os líderes do movimento tenente aos poucos foram ganhando conhecimento nacional: Juarez Távora, Miguel Costa, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias e Luís Carlos Prestes. Com a união dos dois grupos rebeldes, em 1925, formou-se a Coluna Miguel-Costa-Prestes, que ficou famosa como a Coluna Prestes Durante 25 meses, a Coluna percorreu cerca de 25.000 quilômetros, atuando numa guerra de movimentação e obtendo várias vitórias contras as forças legalistas, mas não teve sucesso em sua tentativa de incitar as populações do interior contra Bernardes e a oligarquia dominante. O domínio das oligarquias locais pelo Brasil exercia sua influência sobre as populações regionais, que não viam a Coluna Prestes como uma mudança na realidade social.
Com o fim do mandato de Artur Bernardes em 1926, o sentido da existência da Coluna se perdeu, por isso o movimento entrou na Bolívia e se dissolveu no início do ano seguinte. Após o fim da Coluna, Luís Carlos Prestes se desencantou com o grupo tenente, e deu início em 1928 aos estudos marxistas na Bolívia, onde se aproximou do comunismo e se tornou uma das principais lideranças do comunismo no Brasil, anos mais tarde.