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O feudalismo e a alta idade média (V – X)

O feudalismo, vigente entre os séculos V e X, marcou a Alta Idade Média na Europa. Caracterizado pela descentralização do poder, servidão e relações senhoriais, foi um sistema fundamental que moldou a sociedade, economia e política desse período histórico.

A IDADE DAS TREVAS?

A Idade Média foi alcunhada, de modo pejorativo, como o “Período de trevas”, isto é, uma fase de misticismo, obscurantismo e teocentrismo, na qual todas as explicações naturais e sociais surgiram a partir da filosofia escolástica, baseada em Deus e no estudo das Sagradas Escrituras. O período medieval, entretanto, deve ser compreendido também como a fase em que a Igreja Católica consolidou seu poder espiritual e temporal sobre a chamada “civilização Ocidental”, latinizando, inclusive, as populações germânicas. Foi, outrossim, o período em que os intelectuais da própria Igreja retomariam os estudos da Antiguidade Clássica, garantindo a conservação de obras de inestimável valor cultural, como, por exemplo, as de autoria de Aristóteles, Hipócrates, Platão, Sêneca e Virgílio, entre outros. Ademais, as várias renascenças medievais culminariam com o grande Renascimento Artístico e Cultural dos séculos XIV a XVI. A Idade Média não foi meramente um período de ignorância em que o homem comum aguardava passivamente a eternidade. A excessiva religiosidade medieval foi arquitetada a partir de uma estrutura de cultura católica em uma época em que não existia um poder civil organizado.  

A Idade Média é reconhecida também como a Idade do Catolicismo. A queda do Império Romano no século V determinou uma fragmentação do poder público, que produziu um vazio momentâneo de poder, ocupado posteriormente pelas diversas e frágeis monarquias medievais, representantes de uma categoria de cavaleiros ou guerreiros especializados. A Igreja Católica, entretanto, passou a exercer um poder universal por toda a Europa Ocidental. O papado manteve a unidade da Igreja no mundo ocidental, valendo-se de meios coercitivos: a Inquisição papal; criada em 1231, por Gregório IX, tratava-se de um instrumento judicial para combater heresias, isto é, ideias que fossem contra os dogmas e os sacramentos católicos. A mesma Instituição que organizaria o Tribunal da Inquisição e chancelaria a tortura como forma de obter confissões, todavia, também exerceria um papel regulador da sociedade medieval através de regras morais, mantendo um relativo grau de ordem em uma época em que inexistia um verdadeiro Estado Nacional com funções policiais.

O castelo era outro importante símbolo da Idade Média, pois a inexistência de Estado Nacional fomentava um clima de insegurança no qual, exceto pelas regras morais da Igreja Católica, somente a força da espada dos cavaleiros garantia a ordem social. O castelo fortificado era a segurança que os camponeses pobres procuravam. Indefesos por não portarem armas, objetos de distinção social da nobreza guerreira, os camponeses viam-se reduzidos à mísera condição de servos, colocando-se sob a proteção de um clérigo ou cavaleiro em uma relação de dependência mútua que ficou conhecida como feudo-vassálica. A sociedade era dividida de modo altamente hierárquico, isto é, clérigos e nobres representavam uma elite aristocrática que vivia da exploração de direitos sobre os demais membros da sociedade. A mobilidade vertical era praticamente inexistente e o nascimento determinava o local do indivíduo e de seus descendentes na sociedade.  

A despeito do feudo, isto é, a unidade territorial da terra, ser o objeto mais distinto da Idade Média, a rarefeita urbanização do período não pode ser desprezada. A baixa produtividade agrícola que gerava fome e jacqueries, isto é, revoltas camponesas, eram responsáveis também por um baixo nível de comércio, dificultado, do mesmo modo, pela insegurança social e por um desequilibrado sistema monetário, no qual cada feudo emitia sua própria moeda.

A JUNÇÃO DE MUNDOS

O feudalismo foi possibilitado pela junção do mundo romano com a do mundo bárbaro. Com isso, houve elementos que permaneceram dentro desta cultura. Entre a cultura romana, tivemos as vilas (grandes propriedades agrárias), o clientelismo (dependência social), colonato (obrigações do colono a terra) e o cristianismo (hegemônica desde do final do Império Romano). Do mundo germânico, temos a economia agropastoril, o comitatus (fidelidade entre chefes e guerreiros) e o beneficium (terras em troca de fidelidade).

CARACTERÍSTICAS

Na esfera política, foi baseada na relação de Suserania e Vassalagem (herdada dos germânicos, que utilizavam o COMITATUS e BENEFICIUM). Esta relação era vertical em tese (militar), e horizontal na prática (entre “iguais”, ou seja, nobres). Esta construção era pautada no Direito Consuetudinário, no qual o Suserano concedia dinheiro, gado, terra e pedágio. O Vassalo, por sua vez, concedia Conselho e auxílio militar. O contexto econômico ficou marcado pela agricultura de subsistência e com poucas relações comerciais (o usual era a relação de Escambo).

Pela esfera social, a organização se dava pela estrutura estamental (baixa ou nula mobilidade), hierárquica e de privilégios. Nela, existiam 3 divisões básicas, que eram o Primeiro Estado (Clero, função de orar), Segundo Estado (Nobreza, função de lutar) e Terceiro Estado (Servos, função de trabalhar). Com isso, havia pagamento de obrigações pelos servos e subalternos em troca do uso da terra e da proteção militar (relação vertical).  

Principais obrigações:

  • Corveia = trabalho nas terras do senhor.
  • Talha = “aluguel” da terra (parte da produção do manso servil).  
  • Banalidades = utilização das facilidades do feudo (moinho, fornos, ferramentas).  
  • Mão morta = impostos sobre os servos mortos.  
  • Tostão de Pedro = dízimo da Igreja.

IGREJA

A Igreja foi reconhecida pelo Edito de Milão (313), pelo Império Romano e posta como oficial do Estado Romano em 391, quando Teodósio aplicou o Edito de Tessalônica. Desde então, além de ser a maior força centralizadora da Europa Medieval e maior proprietária de terras, a Igreja tinha o monopólio cultural. Baseado no controle ideológico, no qual a Igreja regulava as relações sociais, e da Escolástica (submissão da filosofia clássica greco-romana aos dogmas da religião católica = monopólio da tradução e interpretação das obras). O clero é dividido em duas partes: o regular (abade e monges), e o secular (papa, bispos e padres, ou seja, aqueles que possuem contato cotidiano com as pessoas).

Um elemento político importante era a Teoria dos dois gládios escrita por Papa Gelásio, em que o poder era dividido em temporal (governo dos homens) e espiritual (poder religioso). Com isso, houve sempre uma forte disputa entre os poderes pelo cesaropapismo (poder espiritual + poder temporal) entre reis e o papa, mas, no medievo, o poder sempre tendia para força papal.

Entretanto, o poder da Igreja sofreu tensões durante o período medieval. Um bom exemplo foi o movimento herege, que, inclusive, fez surgir a Santa Inquisição, em 1231, para punir os praticantes de heresia, como, por exemplo: o arianismo (Cristo não seria Deus, mas seu filho, com isso, sem a mesma substância), albigenses (não acatava a autoridade da Igreja e os Sacramentos) e os valdenses (defensores da pobreza do clero). Do ponto de vista político, um grande evento foi a Querela das Investiduras (1085 – 1122), que gerou a tensão entre Henrique IV (Imperador do Sacro Império Romano Germânico e o Papa Gregório VI, que colocou os Bispos sobre a autoridade da Igreja, defendendo dogmas como celibato e combatendo a simonia (venda de bens da Igreja). Sendo assim, surgiram fortes conflitos entre o Imperador e o Papa, que culminou no excomungar do Imperador. Posteriormente, Henrique IV pede perdão e estabelece a Concordata de Worms (1122), que limitou o poder do Imperador e reforçou a autoridade da Igreja.

A Igreja Católica garantiria, ainda, a conservação e a preservação de preciosidades artísticas e literárias através do trabalho de monges copistas e bibliotecários. Ela foi responsável também pela formação dos padres humanistas e pelo desenvolvimento do cantochão gregoriano, marco inicial da música europeia contemporânea. A Igreja foi intolerante e, ao mesmo tempo, a mais importante instituição de preservação e desenvolvimento do pensamento cultural da civilização ocidental até o advento da modernidade. Ela não foi somente o excesso da Inquisição e os abusos da censura religiosa. A mesma organização que gerou o inquisidor Bernardo Gui também formou o humanista Desiderius Erasmo, autor de Elogio da loucura. A Igreja não era uma instituição homogênea. O clássico do cinema O nome da rosa, produção estrelada pelo ator escocês Sean Connery, é a mais brilhante reconstrução histórica que aborda o assunto: um padre franciscano, detetive e humanista, em um mosteiro beneditino medieval e teocêntrico.

Devido ao papel primordial da Igreja Católica como principal centro de estudos do medievo, a ciência e a fé se confundiam. As explicações dos eventos naturais e sociais eram feitas a partir de uma base religiosa, isto é, teocêntrica, na qual Deus era o epicentro de uma filosofia conhecida como Escolástica, ou seja, uma filosofia de arcabouço teórico baseado na religiosidade católica. Se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, como advogam as Escrituras, nada mais “racional”, no sentido medieval, que este mundo fosse o centro do Universo, daí uma teoria astronômica geocentrista que hoje, segundo nossa lógica científica e racional, parece-nos tão absurda.

A arte gótica era a maior expressão da religiosidade católica em termos de arquitetura. O gênero sobreviveu graças ao mecenato monástico, isto é, ao patrocínio da própria Igreja aos artistas que elaboravam esta expressão artística essencialmente urbana nas grandes catedrais, em uma época que a vida rural ainda era predominante.

Observação: Império Bizantino e a Cisma do Oriente

O antigo Império Romano do Oriente se manteve em pé até o século XV (até a Tomada de Constantinopla, em 1453, pelos árabes), porque possuía um forte exército, uma grande fortaleza e relações diplomáticas com invasores. Tinha uma monarquia centralizadora e teocrática, que se reforçou por episódios contra a Igreja como as heresias (Monofisistas, que Cristo só tinha a natureza divina e não havia a santíssima trindade; Iconoclasta, que destruíram as imagens religiosas) e a Cisma do Oriente (1054), quando o Patriarca Miguel Cerulário rompeu com o Papa Leão IX, com isso, criando a Igreja Cristã Ortodoxa Grega.

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