Por sua formalidade, o poema é constituído por versos, uma sucessão de sílabas e fonemas que se organizam como uma unidade rítmica e melódica, correspondente a cada uma das linhas de um poema. Os versos se organizam em estrofes, um simples agrupamento de versos. O número de versos que compõe uma estrofe é variável e para cada um deles há uma classificação específica:
dístico: dois versos
terceto: três versos
quarteto ou quadra: quatro versos
quintilha: cinco versos
sexteto ou sextilha: seis versos
sétima ou septilha: sete versos
oitava: oito versos
nona: nove versos
décima: dez versos
O conjunto de versos (ou, mais raramente, o verso único) que se repete ao final de estrofes tem o nome de estribilho. Enjambement (cavalgamento) é o nome dado ao verso que tem sua unidade sintática completada em outro verso:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
(Augusto dos Anjos)
Sabemos também que a criação de versos caracteriza-se por uma linha melódica, cujos principais recursos são a rima, o ritmo e a métrica.
RIMA
É a coincidência fonética entre as vogais tônicas de duas palavras e os fonemas que lhe seguirem. Normalmente a rima é um recurso melódico usado no final dos versos.
Quando um verso apresenta uma coincidência melódica com outro, origina uma rima externa (entre versos). Em outros casos, a rima se dá entre duas palavras de um mesmo verso, sendo classificada como rima interna.
Quando externas, as rimas podem apresentar-se alternadas, emparelhadas ou interpoladas. São alternadas quando o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo com o quarto, por exemplo, (ABAB); chamam-se emparelhadas as que seguem o esquema AABB; e intercaladas, ABBA:
A RIMA E O ACENTO
Quanto à posição do acento tônico, as RIMAS, como as palavras, podem ser:
AGUDAS: terminam em palavras oxítonas.
Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomar,
Que no céu os anjos regam com luar...
(Guerra Junqueiro)
GRAVES: terminam em palavras paroxítonas.
Calçou as sandálias, tocou-se de flores,
Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores.
(António Nobre)
ESDRÚXULAS: terminam em palavras proparoxítonas.
No ar lento fumam gomas aromáticas,
Brilham as navetas, brilham as dalmáticas.
(Eugénio de Castro)
RIMA PERFEITA
A rima é uma coincidência de sons, não de letras:
Céu puro que o Sol trouxe
Claro de norte a sul,
O teu olhar é doce,
Negro assim, qual se fosse
Inteiramente azul.
(Alphonsus de Guimaraens)
Há rima perfeita tanto entre sul e azul, como entre as formas trouxe, doce e fosse, que apresentam a mesma terminação grafada de três maneiras diferentes.
RIMA IMPERFEITA
Nem sempre há identidade absoluta entre os sons dispostos em rima:
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz…
(Gonçalves Dias)
RIMA POBRE
Consideram-se POBRES as rimas feitas com terminações de palavras da mesma classe gramatical.
Exemplos:
Infinitivos em -ar;
Particípios em -ado;
Gerúndios em -ando;
Diminutivos em -inho;
Advérbios em -mente.
RIMA RICA
São as rimas que se fazem com palavras de classe gramatical diversa ou de finais pouco frequentes.
O teu olhar, Senhora, é a estrela da alva
Que entre alfombras de nuvens irradia:
Salmo de amor, canto de alívio, e salva
De palmas a saudar a luz do dia…
(Alphonsus de Guimaraens)
irradia = verbo
dia = substantivo
As disposições mais frequentes de rimas são as seguintes:
Rima cruzada
Poesia é carne e é flores, (A)
é suor cristalizado, (B)
trepidação de motores (A)
num céu diurno e estrelado. (B)
(António Gedeão)
Rima emparelhada
Ora, se o filho do alfaiate qualquer dia (A)
Inaugurava ainda a Quinta dinastia!… (A)
Eu sentado no trono!… Eu rei de Portugal!… (B)
Que, rei ou presidente, enfim é tudo igual… (B)
(Guerra Junqueiro)
Rima interpolada
Quando perderes o gosto humilde da tristeza, (A)
Quando, nas horas melancólicas do dia, (B)
Não ouvires mais os lábios da sombra (C)
Murmurarem ao teu ouvido (D)
As palavras de voluptuosa beleza (A)
Ou de casta sabedoria; (B)
(Manuel Bandeira)
Não raro, a rima está ausente do texto poético. Os versos tomam então o nome de versos brancos ou soltos.
Roseira magra
em seiva ardendo
sem folhas
defende com espinhos
áspera
a pequenina flama
do coração exposto.
(Henriqueta Lisboa)
CLASSICISMO PORTUGUÊS
Pode-se dizer que o Classicismo corresponde à fase literária do Renascimento. Desde o período humanista, há a tendência de estabelecer-se algumas obras dentro dos limites do Renascimento. Esse é o caso, por exemplo de Dante Alighieri e sua Divina Comédia; Francesco Petrarca, poeta italiano inventor do soneto e Giovanni Boccacio com seu clássico Decamerão. O período estende-se, portanto, ao longo de vários séculos e abarca inúmeros gênios da humanidade como William Shakespeare, François Rabelais e Miguel de Cervantes.
Em Portugal, o movimento tem início em 1527 pelas mãos do poeta Francisco Sá de Miranda. Ao retornar de uma viagem à Itália, o poeta torna-se o grande renovador da arte literária lusitana ao trazer a chamada “nova e doce forma poética” para a língua portuguesa. Tratava-se do formato italiano de soneto, com dois quartetos e dois tercetos, geralmente composto em decassílabos, formato que se tornou o mais popular na língua portuguesa.
Entretanto, é com Luís Vaz de Camões que a literatura do período chega ao ápice. O escritor, expoente máximo da poesia lusitana, apresenta-se versátil e destaca-se tanto na produção de poesias líricas quanto na construção da maior epopeia em língua portuguesa, Os Lusíadas, um poema épico em que se narra a história de Portugal desde sua fundação mítica e em que se exalta o povo português, celebrando-se os grandes feitos da navegação e os heróis guerreiros da nação lusitana.
Canto I
1.
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
Camões, Os Lusíadas
Em sua produção lírica, Camões utiliza-se tanto da chamada “medida velha” (redondilhas) quanto da “medida nova” (decassílabos) com extrema habilidade. Sua temática apresenta certo desconcerto com o mundo e uma dualidade que se dá entre o amor material e aquele idealizado. Entretanto, todas as antíteses e paradoxos são construídos de forma racional e passadas com uma mistura de lirismo e uma análise intelectual do sentimento amoroso.
Soneto
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
ESTROFE
Numa composição poética, os versos distribuem-se habitualmente por pequenos conjuntos: estrofes ou estâncias.
De acordo com o número de versos agrupados, as estrofes tomam nomes particulares:
estrofes de dois versos – dísticos ou parelhas
estrofes de três versos – tercetos
estrofes de quatro versos – quadras
estrofes de cinco versos – quintilhas
estrofes de seis versos – sextilhas
estrofes de sete versos – sétimas
estrofes de oito versos – oitavas
estrofes de nove versos – nonas
estrofes de dez versos – décimas