Hiss, que negara o envolvimento no caso, foi condenado em 21 de janeiro de 1950 a cinco anos de prisão por perjúrio. A imprensa apelidou o processo Hiss de “caso da abóbora”, pois Chambers escondera os documentos secretos dentro de uma abóbora em uma fazenda.
Outros dois graves casos despertaram a opinião pública norte-americana para a infiltração comunista: em 1949, Judith Coplon, funcionária do Departamento de Estado, foi condenada por passar documentos secretos de contraespionagem para um agente soviético; em 1950, foi preso o cientista Klaus Fuchs, alemão naturalizado britânico, que passara informações sobre o desenvolvimento da bomba atômica americana para a União Soviética.
O presidente Harry Truman já havia promulgado, em 1947, a “ordem de lealdade” e criado o Conselho de Revisão da Lealdade, com a finalidade de investigar funcionários federais que estivessem ligados a associações consideradas antiamericanas. Entretanto, novas leis de “segurança interna” surgiram. A Lei de McCarran exigia o registro de grupos comunistas e a proibição de imigração de indivíduos que já tivessem sido membros de organizações totalitárias.

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A cruzada anticomunista eternizaria um nome: Joseph R. McCarthy. Este obscuro senador, eleito em 1946 pelo estado de Wisconsin, impulsionou sua medíocre carreira política em 9 de fevereiro de 1950, ao anunciar publicamente que o Departamento de Estado na administração de Dean Acheson tinha centenas de funcionários “notoriamente comunistas”. O senador, gozando de sua imunidade parlamentar, chegou a acusar os generais George C. Marshall e Dwight D. Eisenhower de conivência com os soviéticos. McCarthy, vilipendiando os direitos civis, colocava-se sob os holofotes da América.
Um dos principais grupos a sofrer com as perseguições do macartismo foi a classe artística norte-americana. Os grandes estúdios e redes de televisão, sob pressão de patrocinadores e do temível Comitê de Atividades Antiamericanas, adotavam uma “lista negra” informal que excluía do mercado profissionais supostamente vinculados a atividades subversivas ou que apenas se recusavam a colaborar com o Comitê, denunciando colegas. Carreiras profissionais eram arruinadas; vidas interrompidas.
Em 1999, na 71ª cerimônia de entrega dos prêmios da indústria cinematográfica, Elia Kazan, diretor de filmes como Vidas amargas, Um bonde chamado desejo e Sindicado de ladrões, recebeu um Oscar pelo conjunto de sua obra. Kazan, então, com 89 anos, sofreu um grande constrangimento durante a cerimônia: parte da plateia recusou-se a aplaudi-lo. Em 1952, perante o Comitê de Atividades Antiamericanas, Kazan delatou o nome de oito colegas como “membros do Partido Comunista”.
O cinema, que na década de 1950 sofrera com o macartismo, brindou-nos posteriormente com filmes que retratam esta “caça às bruxas de Salem”. Em Culpado por suspeita, Robert De Niro vive um famoso diretor que tem sua promissora carreira comprometida pelo seu passado político. Woody Allen, no filme Teste de ferro por acaso, interpreta um testa de ferro de escritores estigmatizados pela “lista negra”.
A demagogia macartista, contudo, teve um final merecido e inglório. Em 1954, o Senado dos Estados Unidos aprovou uma resolução de censura contra Joseph McCarthy. O relatório do Comitê Legislativo concluiu que o senador transgrediu suas funções ao “lançar a desonra e o descrédito ao Senado, obstruindo os processos constitucionais e deslustrando lhe a dignidade”. McCarthy retornou ao ostracismo.