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Movimentos de vanguarda europeia no Brasil

Ao longo dos módulos, analisamos diferentes manifestações da arte brasileira, porém, as escolas estão relacionadas aos movimentos artísticos da Europa. Por isso, faz-se necessário compreender também o panorama europeu. A transição do século XIX para o século XX ocorreu de modo eufórico, configurando-se como um período de grande inovação no campo das artes.

Neste módulo, analisaremos as manifestações artísticas desse período para, posteriormente, entender como a arte nacional irá se inspirar em tais concepções.

PANORAMA HISTÓRICO

No início do século XX, o mundo vive o otimismo da Belle Époque: uma minoria abastada festeja, satisfeita e deslumbrada, as descobertas e as invenções que se sucedem num ritmo frenético e que tornam a vida mais confortável. Em contrapartida, quase um terço da população mundial permanece subdesenvolvida, morrendo de peste ou de fome antes dos trinta anos, à margem desse impressionante progresso material, em uma situação sórdida, miserável e degradante.

Em 1914, a crise, latente desde o final do século XIX, explode selvagem e brutal. É a Primeira Guerra Mundial, que deixará incontáveis vítimas. Em meio a esse desconcerto, ocorre a Revolução Russa de 1917, que desperta esperanças em todo o mundo, e surge o homem novo que levaria a boa palavra e melhores condições de vida à humanidade.

Após a guerra, inicia-se um período de descompressão, os anos loucos, que atravessarão a crise de 1929, sendo violentamente interrompidos por um novo apocalipse. O genocídio, a tortura e as deportações em massa da Segunda Guerra Mundial manifestam, em plena civilização, o absurdo e o horror da barbárie.

É nesta atmosfera de euforia e desencanto que devemos armar o espírito para acompanhar a sucessão de “ismos”, característica da arte do início do século XX.

INTRODUÇÃO

Chamamos de vanguardas europeias o conjunto de tendências artísticas vindas de diferentes países europeus cujo principal objetivo era levar para a arte o sentimento de liberdade criadora, a subjetividade e até mesmo certo irracionalismo, sobretudo em um contexto em que as correntes filosóficas de cunho positivista influenciavam toda produção artística da época.

Do francês avant-garde, a palavra vanguarda signifuca “o que marcha na frente”. As correntes de vanguarda, embora apresentassem propostas específicas, pregavam um mesmo ideal: era preciso derrubar a tradição por meio de práticas inovadoras, capazes de subverter o senso comum e captar as tendências do futuro. Essas propostas, incompreendidas à época, em virtude, principalmente, do contexto conservador no qual estavam inseridas, adquiriram importância histórica e influenciaram o trabalho de vários artistas no mundo. No Brasil, as vanguardas estiveram intrinsecamente relacionadas com a primeira geração do Modernismo, uma vez que seus representantes (presentes na literatura, na arquitetura, nas artes plásticas ou na música), contagiados pelo sentimento de renovação, observaram a necessidade de alinhar o pensamento artístico brasileiro às vanguardas que surgiram na França no início do século XX. 

FUTURISMO

O Manifesto Futurista, de autoria do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876 – 1944), é publicado em Paris em 1909. No primeiro de uma série de manifestos veiculados até 1924, Marinetti declara a raiz italiana da nova estética: “…queremos libertar esse país (a Itália) de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários”. Falando da Itália para o mundo, o Futurismo coloca-se contra o “passadismo” burguês e o tradicionalismo cultural. 

Dinamismo e simultaneidade são termos paradigmáticos da proposta futurista. Os futuristas queriam mostrar a vida moderna através de pinturas e esculturas cheias de movimento, dinamismo e força. A tela a seguir chama-se O barulho da rua invade a casa (1911), de Umberto Boccione, apresenta uma mulher na sacada de uma casa ouvindo os sons vindos do exterior.

EXPRESSIONISMO

O termo “expressionismo” tem sentido histórico preciso ao designar uma tendência da arte europeia moderna, enraizada em solo alemão, entre 1905 e 1914. Para os expressionistas, arte liga-se à ação, muitas vezes violenta, através da qual a imagem é criada, com o auxílio de cores fortes – que rejeitam a verossimilhança – e de formas distorcidas.

Trata-se de uma arte crítica, com figuras deformadas, com cores contrastantes e com pinceladas vigorosas que rejeitam todo tipo de comedimento. Observe a obra O grito de Edvard Munch e entenda o desespero retratado nas obras expressionistas.

No Brasil, a produção dos anos 1915 e 1916 de Anita Malfatti (1889-1964), em trabalhos como O Japonês, A Estudante Russa e A Boba, são reveladores de seu aprendizado expressionista. Ainda no contexto modernista, é possível lembrar a forte dicção expressionista de parte da obra Lasar Segall (1891-1957) e o expressionismo sui generis de Oswaldo Goeldi (1895-1961). Mais para frente, com as obras de Flávio de Carvalho (1899-1973), e com as pinturas de Iberê Camargo (1914-1994), percebem-se as possibilidades abertas pela sintaxe expressionista do país.

CUBISMO

Influenciados por esculturas primitivas e por Cézanne, os cubistas criaram um tipo de pintura que eliminou a perspectiva, multiplicando os pontos de vista num mesmo quadro. Escolhendo objetos familiares e facilmente reconhecíveis, os artistas reorganizavam os constituintes formais desses objetos em composições geométricas, representando múltiplos ângulos em um único plano.

Considerado um divisor de águas na história da arte ocidental, o Cubismo recusa a ideia de arte como imitação da natureza, afastando noções como perspectiva e modelagem, assim como qualquer tipo de efeito ilusório. Cubos, volumes e planos geométricos entrecortados reconstroem formas que se apresentam, simultaneamente, em vários ângulos nas telas.

Observe o quadro Guernica de Pablo Picasso e entenda melhor o movimento.

DADAÍSMO

Ao contrário de outras correntes artísticas, o Dadaísmo apresenta-

se como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais passados e presentes. Trata-se de um movimento radical de contestação de valores que utiliza variados canais de expressão: revista, manifesto, exposição e outros. As manifestações dos grupos Dada são intencionalmente desordenadas e pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, procedimentos típicos das vanguardas de modo geral.

A geografia do movimento aponta para a formação de diferentes grupos, em diversas cidades, unidos pelo espírito de questionamento crítico e pelo sentido anárquico das intervenções públicas. O clima mais amplo que abriga as várias manifestações Dada pode ser encontrado na desilusão e ceticismo instaurados pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que alimenta reações extremadas por parte dos artistas e intelectuais em relação à sociedade e ao suposto progresso social.

(A fonte, Marcel Durchamp.)

Durchamp, ao usar um mictório como obra de arte, provocou grande polêmica e também instigou o questionamento sobre a arte, seu papel e sua função. Ao transformar qualquer objeto escolhido ao acaso em obra de arte, o artista utiliza a técnica do ready-made. Assim, objetos utilitários sem nenhum valor estético em si são retirados de seu contexto original e elevados à condição de obra de arte ao ganhar uma assinatura e um espaço de exposição em um museu.

SURREALISMO

O termo “Surrealismo”, cunhado por André Breton com base na ideia de “estado de fantasia supernaturalista” de Guillaume Apollinaire, traz um sentido de afastamento da realidade comum que o movimento surrealista celebra desde o primeiro manifesto, de 1924. 

A importância do mundo onírico, do irracional e do inconsciente, anunciado no texto, relaciona-se diretamente ao uso livre que os artistas fazem da obra de Sigmund Freud e da Psicanálise, permitindo-lhes explorar, nas artes, o imaginário e os impulsos ocultos da mente. O caráter antirracionalista do Surrealismo coloca-o em posição diametralmente oposta das tendências construtivas e formalistas na arte que florescem na Europa após a Primeira Guerra Mundial, 1914- 1918, e das tendências ligadas ao chamado retorno à ordem.

A crítica à racionalidade burguesa em favor do maravilhoso, do fantástico e dos sonhos reúne artistas de feições muito variadas. Na literatura, além de Breton, Louis Aragon, Philippe Soupault, Georges Bataille, Michel Leiris, Max Jacob entre outros. Nas artes plásticas, René Magritte, André Masson, Joán Miró, Max Ernst, Salvador Dalí, e outros. Na fotografia, Man Ray, Dora Maar, Brasaï. No cinema, Luis Buñuel.

O erotismo, o corpo, a violência, a dor e a loucura são alguns dos temas abordados dentro do movimento. O amplo repertório de temas e imagens encontra-se traduzido nas obras por procedimentos e métodos pensados como capazes de driblar o controle consciente do artista, portanto, responsáveis pela liberação de imagens e impulsos primitivos. A escrita e a pintura automáticas, fartamente utilizadas, são formas de transcrição imediata do inconsciente.

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