A CONCORDÂNCIA DE VERBOS EM UTILIZAÇÃO IMPESSOAL: SER, FAZER, HAVER (ESTE ÚLTIMO EM OPOSIÇÃO AO “EXISTIR”)
Nas orações sem sujeito o verbo assume a forma de 3ª pessoa do singular:
Havia muitas dúvidas entre os alunos.
Deve haver dez lápis no estojo.
Não vejo Maria há três meses.
Não vejo Maria faz três meses.
Vamos a uma exposição mais didática:

A impessoalidade deste verbo estende-se também aos auxiliares que com ele formam perífrases, como se vê nos exemplos seguintes:
Exemplo:
Então, senhores, pode haver questões mais difíceis de resolver.
Claro que deverá haver candidatos bem preparados.
No caso de o verbo principal ser o existir, o auxiliar concordará com o sujeito.
Exemplo:
Claro que deverão existir candidatos bem preparados.

CONCORDÂNCIA COM O PRONOME RELATIVO
Se o sujeito da oração é o pronome relativo que, o verbo varia de acordo com o número e a pessoa do antecedente do pronome.
Exemplo:
Alguns animais marinhos têm dentes que brilham no escuro.
Neste exemplo, já que o antecedente do que é dentes, o verbo ocorre na terceira pessoa do plural.
Para facilitar o entendimento, vamos analisar os quadros abaixo:

Quando o antecedente é um pronome demonstrativo, o verbo da oração adjetiva vai para a 3ª pessoa do singular ou do plural, conforme seja o antecedente.

Se o antecedente do pronome relativo funciona como predicativo, o verbo da oração adjetiva pode concordar com o sujeito de sua principal ou ir para a 3ª pessoa.


Em expressões de tipo sou eu que, és tu que, foste tu que, etc. o verbo concorda rigorosamente com o sujeito do ser.

Se ocorrer o pronome relativo quem, o verbo da oração subordinada vai para a 3ª pessoa do singular, qualquer que seja o antecedente do relativo, ou concorda com este antecedente:

A CONCORDÂNCIA DO VERBO “SER” COM O PREDICATIVO
Sabe-se que, pela regra geral, sujeito e verbo concordam em número. Diferente não seria com o verbo ser. Assim, o usual é dizer “Paulinho era um menino educado”. Não obstante, há casos em que o verbo ser se acomoda à flexão do predicativo especialmente quando se acha no plural.
Abaixo, relacionamos os casos:

É importante que, além das regras básicas do verbo ser, conheçam-se também alguns comentários necessários. Para isso, apresentamos as palavras do professor Bechara.
Na expressão, que introduz narrações, do tipo de era uma princesa, o verbo ser é intransitivo, com o significado de existir, funcionando como sujeito o substantivo seguinte, com o qual concorda:
Era uma princesa muito formosa que vivia num castelo de cristal.
Eram quatro irmãs tatibitates e a mãe delas tinha muito desgosto com esse defeito [CC.𝓁, 292].
Com a expressão era uma vez uma princesa, continua o verbo ser como intransitivo e o substantivo seguinte como sujeito; todavia, como diz A.G.Kury, “a atração fortíssima que exerce o numeral uma da locução uma vez”, leva a que o verbo fique no singular ainda quando o sujeito seja um plural:
Disse que era uma vez dois (…) compadres, um rico e outro pobre [CC.𝓁, 31].
Era uma vez três moças muito bonitas e trabalhadeiras [CC.𝓁, 120].
A moderna expressão é que, de valor reforçativo de qualquer termo oracional, aparece em geral com o verbo ser invariável em número:
Nós é que somos brasileiros / Nós somos brasileiros.
Esses livros é que não compraremos agora.
Afastado do que e junto do termo no plural, aparece às vezes o verbo, no plural:
São de homens assim que depende o futuro da pátria / De homens assim é que depende o futuro da pátria.
Foram nesses livros que estavam as respostas / Nesses livros foi que estavam as respostas.
Este último caso pode levar o candidato a se confundir quando separa orações. Se não souber identificar a expressão de realce, facilmente vai marcar o verbo ser como sintagma verbal de uma das orações do suposto período composto, entendendo o que, constante da expressão, como pronome relativo. Para dirimir essa dúvida, o professor pode retirar a expressão de realce e mostrar que a frase se mantém com integridade sintática e semântica.
USO DO INFINITIVO
NÃO FLEXIONADO

USO DO INFINITIVO FLEXIONADO
Emprega-se obrigatoriamente o infinitivo flexionado quando este verbo apresenta sujeito próprio, diferente do sujeito da oração principal.
Exemplo:
Recebemos a notícia de estarem aprovados os candidatos com nota acima de oito.
Casos que admitem dupla construção:

Na maioria dos casos, o uso do infinitivo flexionado ou não flexionado é mais uma questão de estilo do que propriamente de Gramática.
A CONCORDÂNCIA NAS EXPRESSÕES DE PORCENTAGEM
Se o sujeito é quantificado por expressão de porcentagem, o verbo vai regularmente à terceira pessoa do plural:
Exemplo:
Estima-se que, no Brasil, 23% dos analfabetos nasceram em condições de pobreza extrema.
Mas o verbo pode, opcionalmente, ficar na terceira pessoa do singular se o substantivo que denota a coisa quantificada estiver no singular:
Exemplo:
Desde 2001, cerca de 40% do corpo administrativo desta empresa é composto de empregados mal qualificados.
A CONCORDÂNCIA COM OS PRONOMES DE TRATAMENTO
Esta é uma regra bem simples e de fácil memorização. O verbo, cujo sujeito é um pronome de tratamento, flexiona-se em 3ª pessoa do singular ou do plural.
Exemplo:
Vossa Excelência quer que levemos seus documentos para o cartório?
Uma dificuldade nesta regra surge de um signo desorientador – o pronome vossa – que induz o falante a usar o verbo flexionado em 2ª pessoa do plural, supondo estar assim usando a norma culta.
Note que os pronomes de tratamento equivalem a você.
Se o núcleo do sujeito está no singular, representado por um substantivo, um pronome de 3ª pessoa ou um pronome de tratamento, o verbo flexiona-se normalmente no singular:
Exemplo:
O amigo chegou cedo.
Ninguém sairá da sala.
Vossa Excelência governa este país com dedicação.
A CONCORDÂNCIA COM A EXPRESSÃO “A MAIORIA DE” E SIMILARES
Esta é uma regra que tem sido muito cobrada nos concursos. Com a expressão a maioria de e similares, o verbo poderá concordar com a expressão núcleo do sintagma, ficando no singular, ou com o termo partitivo, ficando no plural.
Exemplo:
A maior parte dos candidatos não soube a matéria.
Grande parte dos professores já viram que tem de estudar todos os dias para se atualizarem.
Vamos analisar outros casos:
O sujeito pode ser uma oração.
Iniciada por uma conjunção:
Deve espantar-nos que sejam consideradas crimes, na Nigéria, atitudes...
Iniciada por um verbo no infinitivo:
Não ocorre aos cientistas imaginar que os leigos não entendam suas teorias.
Nos dois casos – em que o sujeito de um verbo é uma oração – o verbo da oração principal ficará na 3ª pessoa do singular.
É necessário que haja mudanças na economia Brasileira.