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Literatura brasileira: Simbolismo

O Simbolismo, um movimento literário e artístico que emergiu no final do século XIX, enfatizou o uso simbólico e subjetivo da linguagem para transmitir emoções e significados profundos. O Simbolismo influenciou a poesia e as artes visuais, destacando sua busca pela expressão da alma humana por meio de símbolos e metáforas.

Simbolismo

O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo são formas de entender o mundo dentro de uma ótica mais objetiva e científica. Tais movimentos ocorreram impulsionados pelos grandes avanços científicos do século XIX, no entanto, a ciência não foi capaz de acabar com os problemas da sociedade. Por isso, no período finissecular, surge um movimento poético de caráter subjetivo que se opõe às estéticas vigentes.

INTRODUÇÃO

A ciência e a técnica permitiram ao homem do fim do século XIX um extraordinário conforto material (telefone, motor a explosão, microfone, cinematógrafo, telégrafo, lâmpada incandescente), provocando enorme euforia. O espírito científico, o materialismo, o positivismo, o determinismo transformaram-se em uma verdadeira religião. Contudo, alguns intelectuais, distanciados dessa euforia, começaram a expressar a necessidade de superar a visão racionalista e mecanicista do universo, colocando questões que transcendem a possibilidade de comprovação objetiva, na busca de um modo suprarracional de conhecimento, que pudesse penetrar as camadas profundas do “eu” e traduzir os “mistérios” da vida.

A oposição ao racionalismo, às pretensões cientificistas e ao progressismo da sociedade industrial tem como precursores alguns filósofos — como Schopenhauer e Kierkegaard — e alguns escritores e poetas “estranhos”, como o americano Edgar Allan Poe. Charles Baudelaire, grande poeta que se afasta dos padrões do Parnasianismo de seu tempo, é um dos pais da nova poética, de que serão expoentes Stéphane Mallarmé, Paul Verlaine e Arthur Rimbaud. O desenvolvimento da ciência, em fins do século XIX e início do século XX, orientou-se para caminhos semelhantes aos trilhados por aqueles grandes pensadores e poetas. Assim, a física relativista de Einstein colocou em questão alguns postulados básicos da ciência tradicional, enquanto Freud inaugurou o estudo do inconsciente e abalou crenças fundamentais a respeito da lógica do comportamento humano.

Para entendermos melhor o pensamento que fundamenta o Simbolismo, devemos ter como base os apontamentos do professor Alfredo Bosi:  “do âmago da inteligência europeia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da coisa e do fato sobre o sujeito – aquele a quem o otimismo do século prometera o paraíso, mas não dera senão um purgatório de contrastes e frustrações”.

PANORAMA HISTÓRICO BRASILEIRO

O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na década de 1890, quando o país passava também por intensas e radicais transformações, ainda que diversas daquelas vivenciadas na Europa. O advento da República e a abolição da escravatura modificaram as estruturas políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária e aristocrática sociedade brasileira do Império. Os primeiros anos do regime republicano, de grande instabilidade política, foram marcados pela entrada em massa de imigrantes no país, pela urbanização dos grandes centros – principalmente de São Paulo, que começou a crescer em ritmo acelerado, – e pelo incremento da indústria nacional.

Nas cidades, a classe média se expandiu, enquanto a operária começou a tornar-se numerosa. No campo, aumentaram as pequenas propriedades produtivas e o colonato. A jovem República Federativa, que ainda definia os limites de seu território, conheceu a riqueza efêmera da borracha na Amazônia e a prosperidade trazida pela diversificação da produção agrícola no Rio Grande do Sul. No entanto, era o café produzido no Centro-Sul a força motriz da economia brasileira, e de seus lucros alimentou-se a poderosa burguesia que determinava o destino de grande parte dos projetos políticos, financeiros e culturais do país.

No Brasil ainda sustentado pela agricultura e dependente de importações de produtos manufaturados, máquinas e equipamentos; a indústria editorial engatinhava. O público leitor era reduzido, já que a maior parte da população era analfabeta. As poucas editoras existentes concentravam-se no Rio de Janeiro e lançavam autores de preferência já conhecidos do público, em tiragens pequenas, impressas em Portugal ou na França, e mal distribuídas. Era principalmente nas páginas de periódicos que circulavam as obras literárias, e onde se debatiam os novos movimentos estéticos que agitavam os meios artísticos. Foi por meio do jornal carioca Folha Popular que se formou o grupo simbolista liderado por Cruz e Souza (1861-1898), provavelmente o mais importante a divulgar a nova estética no país.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Os poetas simbolistas acreditavam que a realidade é complexa demais para ser apreendida e descrita de maneira objetiva e racional, como pretendiam os realistas e os parnasianos. Eles voltaram-se para o universo interior e os aspectos não racionais e não lógicos da vida, como o sonho, o misticismo, o transcendental. Propunham o exercício da subjetividade contra a objetividade – retomando, de modo diferente, o individualismo romântico.

O Simbolismo pode ser considerado um prolongamento ou uma radicalização do Romantismo: retoma o subjetivismo, o individualismo, o espiritualismo, o sentido conflituoso “eu vs. mundo” e leva às últimas consequências a concepção de mundo inaugurada com as doutrinas romântico-liberais. Entretanto, contrariamente aos românticos, os simbolistas entendiam que a poesia não é somente emoção, mas a tomada de consciência dessa emoção; que a atitude poética não é unicamente afetiva, mas, ao mesmo tempo, afetiva e cognitiva. Por isso, os simbolistas vão em busca da essência do ser humano, daquilo que ele tem de mais profundo e universal: a alma.

Buscando as esferas inconscientes, o “eu profundo”, os simbolistas iniciam a exploração do mundo interior, rompendo os níveis do razoável, do lógico e atingindo os estratos mentais anteriores à fala e à lógica. Mais do que tocar os desvãos do inconsciente, pretendiam senti-los, examiná-los.

O problema mais difícil era o de como transportar as vivências abissais para o plano do consciente a fim de comunicá-las a outrem. Era necessário inventar uma linguagem nova, fundada numa gramática e numa sintaxe psicológica, utilizando arcaísmos, termos exóticos e litúrgicos, recorrendo a neologismos, a inesperadas combinações vocabulares e a recursos gráficos (maiúsculas alegorizantes, uso de cores na impressão dos poemas). Para tentar traduzir as mensagens cifradas do “eu profundo”, das partes nebulosas do ser, os simbolistas apelaram para a evocação, para a sugestão, empregando uma linguagem indireta que apenas sugerisse os conteúdos emotivos e sentimentais, sem narrá-los ou descrevê-los. A metáfora e o símbolo ganharam, a partir daí, nova estrutura e fisionomia, buscando as múltiplas relações entre a essência do “eu profundo”, a palavra e o objeto.

Os escritores deste movimento propõem um processo cósmico de aproximação entre as realidades físicas e as metafísicas. Por meio de sinestesia, um tipo de metáfora que consiste na transferência (ou “cruzamento”) de percepção de um sentido para outro, ou seja, a fusão, num só ato de percepção, de dois sentidos ou mais.

Ademais, para os simbolistas, a música ocupa o primeiro lugar entre todas as artes porque, liberta de toda referência específica aos diversos objetos da vontade, poderia exprimi-la em sua essência. Sendo assim, a presença de aliterações e assonâncias foi constante. Junto a isso, as palavras raras e musicais, escolhidas pela sonoridade – arcaísmos, neologismos, termos litúrgicos, combinações vocabulares inesperadas – foram usadas, criando uma verdadeira verbomania. Esta musicalidade do Simbolismo apoia-se na valorização do sugestivo e na diminuição do significado lógico das palavras: à medida que não entendemos o significado de uma frase, tendemos a prestar mais atenção a seu aspecto sonoro.

O verso simbolista é obscuro, hermético, distanciando-se do vulgar e do profano. Construído por sucessivas implicações de sentidos de sons, de ritmos, vale pelas sugestões, e não por suas descrições ou explicações.

PRODUÇÃO NACIONAL

Cruz e Sousa é considerado o maior poeta simbolista brasileiro e foi mesmo apontado pelo sociólogo Roger Bastide (1898-1974) como dos maiores poetas do Simbolismo no mundo. Para a crítica Luciana Stegagno-Picchio, “ao firme, sapiente universo do parnasiano, à estátua, ao mármore, mas também ao polido distanciamento e ao sorriso, o simbolista Cruz e Sousa contrapõe seu universo sinuoso, mal seguro, inquietante, misterioso, alucinante”. Negro, o poeta sofreu preconceitos terríveis, que marcaram de diversos modos sua produção poética. Os críticos costumam indicar a “obsessão” pela cor branca em seus versos, repletos de brumas, pratas, marfins, linhos, luares, e de adjetivos como alva, branca, clara. Mas Cruz e Sousa também expressou as dores e injustiças da escravidão em poemas como Crianças Negras e Na Senzala.

A obra de Alphonsus de Guimaraens é fundamentada pelos temas do misticismo, do amor e da morte. Em poemas como A Catedral e A Passifiora, repletos de referências católicas, a religiosidade é o assunto principal. O poeta também voltou-se para outro tema caro aos simbolistas, o interesse pelo inconsciente e pelas zonas profundas e desconhecidas da mente humana. Ismália, talvez seu poema mais conhecido, tematiza justamente a loucura. O amor, em sua poesia, é o amor perdido, inatingível, pranteado, como em Noiva e Salmos da Noite; reminiscências da morte prematura da mulher que amou na juventude.

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