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Literatura brasileira: Modernismo de 45

O ano de 1945, que assinala o início da terceira fase do Modernismo, é um dos mais marcantes da história da humanidade. Nessa data, com as explosões atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, terminava a Segunda Guerra Mundial e começava um período de reestruturação geográfica, política e econômica que dividiu o mundo em blocos capitalistas, sob a liderança dos Estados Unidos, e comunistas, guiados pela ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

O período do pós-guerra vai priorizar a prosa de ficção em vez da poesia. Tal fato se explica por ser o gênero narrativo mais adequado à expansão da necessidade de comunicação direta e o lugar mais amplo para a apresentação do homem em todas as suas dimensões.

Desaparecem os limites entre romance, conto e novela. A ficção torna-se mais complexa e fragmentada, modificando os elementos tradicionais, como narrador, personagem, tempo e espaço. Em alguns romances, tenta-se anulá-los. Despreza-se o enredo, problematiza-se a personagem, fragmenta-se o tempo.

INTRODUÇÃO

No Brasil, 1945 é o ano da queda de Getúlio Vargas. Ele voltou ao poder pelo voto popular em 1950, permanecendo até suicidar-se em 1954. Além disso, é o ano da morte de  Mário de Andrade (1893-1945), principal figura do Modernismo, e ano da publicação de O Engenheiro, livro de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) que apresenta características inovadoras do fazer poético. Cabral fez parte da chamada «geração de 45», grupo de poetas que propôs, entre outros princípios, a retomada do rigor formal. É também a data do I Congresso Brasileiro de Escritores, que ocorre em São Paulo e atesta a maturidade do sistema literário brasileiro.

Nas revistas e jornais, a crônica vive uma fase brilhante. Rubem Braga (1913-1990) e novos escritores mineiros, como Paulo Mendes Campos (1922-1991) e Fernando Sabino (1923-2004) renovam o gênero, exercitado pelos grandes prosadores e poetas do período.

A Geração de 45, no contexto da Terceira Fase Modernista (1945-1980), já inclui aspectos pós-modernos e, por isso, é também chamada de “Fase Pós-Moderna”, com rupturas entre a primeira e a segunda fase. Assim, fica claro que a ideia inicial difundida pelos Modernistas de 22 vinha sofrendo mudanças com o passar dos tempos.

A geração de 45 reuniu artistas preocupados em buscar uma nova expressão literária, por meio da experimentação e inovações estéticas, temáticas e linguísticas. Representava uma arte mais preocupada com a palavra e a forma, no caso de João Cabral e Guimarães Rosa, sem deixar de explorar assuntos essencialmente humanos, como na obra de Clarice Lispector.

A PROSA DE 45

Na prosa, deparamo-nos com duas distintas vertentes. Uma prosa de denso vasculhar psicológico, em que se mergulha em busca de profundezas do ser, uma sondagem de envergadura nunca antes vista em nossa literatura e representada por artistas como Clarice Lispector e de Lygia Fagundes Telles. Há também a construção de narrativas preocupadas com a profunda reinvenção da linguagem, como os textos de Guimarães Rosa.

Nos textos de Guimarães e de Clarice, não só o uso das palavras torna-se mais denso, como também as características psicológicas de cada personagem. Porém, Rosa constrói personagens presos a um cenário do interior do Brasil, dando nova roupagem ao romance regionalista.

AUTORES IMPORTANTES DA PROSA

  • Guimarães Rosa;
  • Clarice Lispector;
  • Lygia Fagundes Telles;
  • Fernando Sabino.

A POESIA DE 45

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é o principal poeta surgido no período da Geração de 45, e figura entre os maiores poetas da língua portuguesa. Destacam-se também, nessa geração, os poetas Péricles Eugênio da Silva Ramos, Domingos Carvalho da Silva e Lêdo Ivo.

A poesia de João Cabral é “capaz de seduzir pela pura qualidade verbal e pela capacidade de exprimir de maneira poderosa uma realidade que parece, todavia, nascer da experiência com a palavra”, segundo o crítico Antonio Candido. A linguagem e o estilo do livro de estreia do poeta pernambucano,  Pedra do Sono, afastam-se da tendência dominante na poesia da época, representada pela geração de 45, que propõe a redefinição de padrões mais convencionais de lirismo.

É um poeta de poucas palavras e poucos assuntos. Seus poemas comunicam-se por si mesmos, presos a um rigoroso esquematismo e fundados em palavras com sentido denotativo, palavras concretas, tecidas em fios de tramas complicadas e surpreendentes, como um tear, como “máquina do poema”.

O poeta era rigoroso com seus poemas, apresentando uma estrutura mais fixa e com versos rimados. Seu estilo não é marcado pelo sentimentalismo, é mais objetivo, racional. Não tinha romantismo em seus escritos, o poeta buscava descrever as percepções do real, colocando de forma concreta as sensações. Além disso, buscava as oposições na sua poesia.

Sua poesia não é melódica, mas rítmica. João Cabral começou a escrever em verso livre, mas, a partir de O Cão sem Plumas, adotou a métrica tradicional, dando preferência ao verso de oito e nove sílabas (octassílabo e eneassílabo) e à rima toante, cuja sonoridade, estranha à língua portuguesa, aproxima a sua poesia do ritmo da prosa. Observe o poema seguinte e entenda melhor.

O RELÓGIO

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto 
de uma tal continuidade.

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