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Literatura brasileira: Arcadismo

Quando estudamos o Barroco, vimos que se tratava de um movimento muito preso à religiosidade. A partir da primeira metade do século XVIII, houve grande decadência do pensamento barroco. Diversos fatores históricos foram responsáveis por promover mudanças, que alteraram também a relação do homem com a escrita e com as artes. Assim, surgiu uma nova estética em meados do referido século, chamada de Arcadismo.

A fim de facilitar o entendimento sobre o assunto, mostraremos, neste módulo, o contexto europeu e também brasileiro que propiciou transformações também no campo das artes.

INTRODUÇÃO

Em meados do século XVIII, na Inglaterra e na França, a burguesia nascente passou a dominar a economia do Estado. O pensamento burguês espalhou-se para outras partes do velho continente.

Em 1748, Montesquieu publicou O espírito das leis, obra na qual propôs a divisão do governo em três poderes (executivo, legislativo e judiciário). Posteriormente, o pensamento de Jean-Jacques Rousseau ganhou visibilidade, propagando-se o ideal do “bom selvagem”. Temse, então, a configuração de uma época centrada no pensamento racional e voltada para discussões que envolviam aspectos políticos e sociais. Assim, o Iluminismo expôs teses que defendiam uma divisão mais equilibrada do poder.

Além disso, houve, no mesmo período, intensificação da atividade comercial pela burguesia, favorecida por inventos como o tear mecânico e a máquina a vapor, marcos da Revolução Industrial. Os trabalhadores deixam o campo e passam a trabalhar nas cidades. Os espaços urbanos tornaram-se inchados e sem infraestrutura para oferecer condições mínimas de moradia. Esta desenfreada modernização despertou nos poetas certa nostalgia pela vida campestre, levando-os a explorar a temática do pastoralismo. Com isso, surgiu a poesia árcade na Europa.

PANORAMA HISTÓRICO

No Brasil, o século XVIII destaca-se por ter marcado o início das atividades de escritores enquanto grupo. Fundaram-se várias sociedades literárias em diferentes partes do território. Assim, o Arcadismo brasileiro constituiu o primeiro esforço conjunto de criação de uma literatura nacional embora isso tenha acontecido quando ainda éramos uma colônia, que pautava a própria escrita nos modelos europeus.

Ademais, o momento em questão é marcado pelo desenvolvimento cultural das regiões que até então estavam isoladas: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Houve descoberta de ouro e de outros metais preciosos, desencadeando a ocupação de Minas Gerais.

A metrópole cobrava, nesse momento, altas cargas tributárias. A insatisfação com a cobrança de taxas fez com que houvesse maior receptividade às ideias iluministas. Desse modo, estimulados pela Independência dos Estados Unidos e pelas manifestações pré-revolucionárias na França, membros da elite de Vila Rica arquitetaram a Inconfidência Mineira.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ARCADISMO

O termo “Arcadismo” deriva de Arcádia, região da antiga Grécia, localizada na parte central do Peloponeso. A região montanhosa era habitada por pastores e, desde a Antiguidade, foi exaltada como local mítico, em que seus habitantes entremeavam trabalho com poesia, exaltando o ambiente rústico em que viviam.

Na Renascença, a palavra Arcádia simbolizava um lugar ideal para se viver, sinônimo de equilíbrio e de serenidade de espírito. O escritor italiano Sanazaro (1456-1530) apresenta em seu romance pastoril Arcádia grande bonança sentimental.

No século XVIII, Arcádia passa a designar as agremiações de escritores que se reuniam regularmente visando restaurar a sobriedade da poesia clássico-renascentista. Esses poetas desejavam uma escrita mais simples e equilibrada, contrapondo-se ao estilo barroco.

Por ter como referência os ideais iluministas, é natural que o Arcadismo seja mais racional e exponha um mundo mais simples. Além disso, fazem alusão à mitologia.

Os escritores estão na cidade, mas sentem saudade do campo, por isso, o eu lírico árcade vive em um ambiente campestre ideal e se apresenta como um pastor, portador de uma vida bucólica. No plano formal, os escritores farão versos mais simples, sem exageros. Junto a isso, escreveram sonetos e priorizaram os versos decassílabos.

Há forte fingimento poético e uso de pseudônimos.

PRECEITOS ÁRCADES

A literatura árcade obedece alguns lemas concebidos na Antiguidade Clássica, tais como:

  • fugere urbem: “fugir da cidade” – repulsa à intranquilidade da vida urbana;
  • locus amoenus: “lugar ameno” – busca à serenidade do mundo campestre;
  • inutila truncat: “cortar o inútil” – escrita mais simples e sem exageros;
  • áurea mediocritas: “equilíbrio áureo” – crença de que a virtude está no meio termo;
  • carpe diem: “colher o dia” – convite a aproveitar o momento presente.

A PRODUÇÃO NACIONAL

Os escritores nacionais estavam envolvidos na articulação da Inconfidência Mineira. Há, neste sentido, um distanciamento entre a vida dos escritores e o conteúdo de seus poemas. Isso significa dizer que, embora os escritores estivessem em Vila Rica (atual Ouro Preto), criavam poemas em que o eu lírico estava totalmente afastado das grandes cidades.

No gênero épico, sobressaem os seguintes trabalhos:

  • O Uraguay (1769), de Basílio da Gama (1741-1795), poema em cinco cantos, composto em versos brancos e estrofação livre. O tema da epopeia é a luta entre a população indígena dos Sete Povos das Missões e o exército luso-espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrade, responsável pela execução dos dispositivos do Tratado de Madri (1750). A estrutura do poema rompe com o esquema tradicional da épica camoniana, até então dominante. Afasta-se também dos cenários bucólicos e das referências mitológicas convencionais do Arcadismo, para instaurar um espaço mais adequado ao tema: a exaltação do índio como herói, pronunciando o indianismo romântico.
  • Caramuru (1781), de Santa Rita Durão (1720-1784), poema que segue rigorosamente o modelo camoniano, aplicado em Os Lusíadas, dez cantos, versos decassílabos organizados em oitava-rima. O tema é o naufrágio, o resgate e as aventuras de Diogo Álvares Correia (?-1557), apelidado de Caramuru pelos índios. O relato é enriquecido por referências a fatos que vão desde o “achamento” do Brasil até o século XVIII.

OUTROS NOMES RELEVANTES

TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA

A poesia lírica de Tomás A. Gonzaga representa, sem dúvida, o melhor momento da criação literária no Brasil do século XVIII. Marília de Dirceu, por justiça e por mérito, tornou-se uma das obras de maior receptividade na Literatura de língua portuguesa, encantando os leitores desde o seu lançamento. Manuel Bandeira afirma que “nenhum poema, a não ser Os Lusíadas, tem tido tão numerosas edições”. A paixão de um homem por uma adolescente de 17 anos é o fio condutor de Marília Dirceu.

A primeira parte reúne 23 liras compostas por Gonzaga desde quando conheceu Marília até ser preso pelo envolvimento na Conjuração Mineira.

A segunda parte, com 32 liras, foi escrita na prisão, durante os três anos em que o poeta ficou aguardando uma definição para o seu caso. Aliás, o drama político que levou o poeta à separação definitiva de sua amada, já que foi condenado à permanência definitiva na África, é um outro fator que desperta interesse em torno da obra.

A terceira parte, de qualidade inferior às outras, exalta outras musas, como Nise, Liudora, Elvira e Laura; no entanto, é ainda Marília quem inspira os melhores versos da lírica de Gonzaga, especialmente quando descreve a natureza brasileira e o ambiente social do ciclo do ouro.

Em Marília de Dirceu, Gonzaga satisfez aos principais cânones árcades, como o de cultivar o tão decantado equilíbrio existencial (a aurea mediocritas), e ainda o de defender a utopia de que o homem que vive próximo à natureza torna-se um ser superior, por depurar sua força interior. A sinceridade das confissões e o tom de ingênua simplicidade deste longo poema de amor, no entanto, superam em muitos os clichês ditados pelos convencionalismos daquela escola.

Como poeta satírico, Tomás A. Gonzaga produziu as Cartas chilenas, que circularam clandestinamente em Vila Rica e registraram a insatisfação das elites mineiras para com a administração do governador Cunha Menezes, ridicularizado como “Fanfarrão Minésio”. Em 13 cartas, assinadas por Critilo (pseudônimo do poeta), escritas em versos decassílabos brancos e endereçadas a Doroteu (que se pressupõe ser o amigo Cláudio M. da Costa), Gonzaga denunciou as estrepolias e a corrupção produzidas pelo “louco chefe asno” e pela corja de velhacos que ele protegia.

A paternidade das Cartas chilenas foi discutida durante muito tempo; hoje, após minuciosa pesquisa realizada pelo professor Rodrigues Lapa, não se tem mais dúvida de que o autor é realmente Tomás Antônio Gonzaga. Suas desventuras políticas tiveram origem com essa obra, que representou melhor que qualquer documento histórico a vida naquela pequena capital das artes e da luxúria: a cidade de Vila Rica do século XVIII.

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (GLAUCESTE SATÚRNIO)

Cláudio Manuel da Costa cultivou a poesia bucólica, pastoril, na qual menciona a natureza como refúgio: 

“Sou pastor; não te nego; os meus montados
São esses, que aí vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados.”

Ou ainda o sofrimento amoroso, as musas:

“Parece, que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.”

Deixou-nos também o poema épico Vila Rica, no qual exalta os bandeirantes, fundadores das inúmeras cidades na região mineradora, e narra a história da atual Ouro Preto, desde a sua fundação.

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