O principal produto que os chineses importavam não era nenhum bem de consumo de Manchester ou um manufaturado qualquer de Berlim, Paris ou outra capital europeia. Os chineses importavam ópio britânico produzido nas Índias Orientais. O ópio, entorpecente obtido da papoula, gerava dois grandes problemas para o governo imperial da China. O primeiro estava relacionado diretamente com o consumo do produto e seus efeitos sociais. O ópio é uma droga que causa dependência e, consequentemente, provocava problemas como prostituição, corrupção e violência. A segunda questão, de ordem econômica, era a sangria provocada na balança de comércio chinesa, que registrava continuamente déficit, pois o ópio era pago em prata e não havia qualquer produto que os chineses ofertassem no mercado internacional que pudesse contrabalançar a excessiva aquisição do ópio.
J. Spencer, historiador inglês, aponta em seu livro, Em Busca da China Moderna, que a Inglaterra desejava obter um pretexto para aniquilar o monopólio de Cantão e Co-Hong, instituindo, assim, a abertura do mercado chinês para seu total comércio. Em 1839, quando o governo da China resolveu finalmente proibir o comércio de ópio no país, os ingleses obtiveram o argumento de que tanto necessitavam. Uma carga de mais de uma tonelada de ópio britânico foi apreendida no porto de Cantão e seria destruída como uma das primeiras medidas contra o tráfico. Foi o que bastou para os ingleses iniciarem a primeira Guerra do Ópio, que perduraria até 1842.
Em 29 de agosto de 1842, os representantes das duas monarquias assinaram o primeiro tratado desigual de Nanquim, encerrando a Guerra do Ópio. O tratado recebeu a denominação de “desigual” porque beneficiava exclusivamente a Inglaterra, determinando, entre outros aspectos, que novos portos deveriam ser abertos ao comércio inglês, acabando com o monopólio de Cantão (art. 2o e 5o); a ilha de Hong-Kong deveria ser entregue aos ingleses (art. 3o); indenização aos ingleses (art. 4o ou 7o); além de outras condições que concediam a eles o direito de extraterritorialidade, tratamento de “nação economicamente mais favorecida” e a permissão para a entrada de missionários cristãos no país, os quais foram responsáveis pelo surgimento dos taipings, chineses apóstatas que chegaram a liderar uma rebelião na década de 1840. Na segunda metade do século XIX, as outras potências imperialistas, incluindo os Estados Unidos e o Japão, partilhariam a China em áreas de influência. Os norte-americanos defendiam uma política de portas abertas (open door policy) na China, enquanto os japoneses iniciaram sua corrida imperialista sobre a Ásia, ocupando a Manchúria chinesa, a Península da Coreia e, posteriormente – ao vencer os russos na guerra de 1905 –, as ilhas Sakalinas.
A dominação estrangeira fomentou uma outra revolta, desta vez de teor nacionalista. Os boxers, chineses que expressavam uma virulenta xenofobia, eram oriundos de sociedades secretas de artes marciais e, aos gritos de “destruir o estrangeiro!”, mataram, entre 1898 e 1901, europeus e chineses convertidos ao cristianismo, até serem reprimidos pelas forças imperialistas aliadas ao império chinês.