Por causa da importância do relevo e do clima na formação de cada conjunto, em lugar da expressão paisagem natural, costuma-se utilizar também domínios morfoclimáticos (morfo: forma, nesse caso se refere ao relevo; climático: relativo ao clima). Mas isso não significa que cada conjunto seja delimitado apenas pelo clima ou pelo relevo, pois há uma superposição entre os domínios morfoclimáticos, os fitogeográficos, os hidrológicos e os pedológicos.
No Brasil, segundo o geógrafo Aziz Ab´Sáber, podemos reconhecer seis grandes domínios morfoclimáticos: Amazônico, da Caatinga, do Cerrado, da Araucária, das Pradarias e dos Mares de Morros. Entre esses domínios inserem-se numerosas faixas de transição, com elementos típicos de dois ou mais deles.

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-51-Dominios-morfoclimaticos-do-BrasilFonte-AbSaber-1969_fig1_306396133
DOMÍNIO AMAZÔNICO OU TERRAS BAIXAS FLORESTADAS EQUATORIAIS
É formado, em sua maior extensão, por terras baixas sedimentares (planícies, baixos planaltos e depressões), com clima equatorial quente e úmido o ano inteiro. Apresenta imensa floresta úmida e heterogênea e a mais vasta bacia fluvial do mundo. O peso da natureza ainda é marcante, apesar do intenso processo de devastação realizado pelo homem. Apresenta solos, em geral, de baixa fertilidade, com exceção de algumas manchas de terra preta (solo orgânico muito fértil) e de alguns solos aluviais na Várzea do rio Amazonas.
Perfil vegetal: FLORESTA EQUATORIAL PLUVIAL AMAZÔNICA

Fonte: https://www.todamateria.com.br/floresta-amazonica/
É encontrada na maior parte da Amazônia Legal, estendendo-se ainda por outros países sul-americanos.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS:
- É formada por plantas latifoliadas (folhas largas).
- É composta por plantas perenifólias (mantém suas copas sempre verdes).
- É do tipo ombrófila ou higrófila (plantas que se desenvolvem em ambientes úmidos).
- É heterogênea (possui uma enorme biodiversidade, com o maior banco genético do planeta).
- É densa ou fechada, o que dificulta a penetração e a sua exploração econômica.
- As plantas praticam o fototropismo (disputam a luz solar), o que contribui para existência de árvores de grande porte (cerca de 60 m de altura).
- A floresta Amazônica se desenvolveu num ambiente de solos pobres, do tipo hidromórficos lixiviados (arenosos, preenchidos por uma camada de húmus ou matéria orgânica decomposta na parte superior, o que lhe fornece uma fertilidade superficial).
- As árvores possuem raízes superficiais, fruto da pobreza interior dos dolos da região.
A floresta Amazônica está dividida em três partes:
A floresta Amazônica apresenta três degraus de vegetação, conforme os níveis altimétricos: a mata de iguapó ou caaiagapó (ocupa o solo permanentemente alagado), mata de várzea (corresponde à porção da floreta Amazônica sujeita e inundações periódicas) e mata de terra firme (recobre as áreas mais elevadas, não atingidas pelas inundações, correspondem a 90% da área total da Amazônia).

Fonte: ADAS, Melhem. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Moderna, 2004, p.360
MARES DE MORROS OU ÁREAS MAMELONARES TROPICAIS ATLÂNTICAS FLORESTADAS
Localiza-se na porção litorânea do país, desde o Nordeste até o Sul, avançando mais para o interior do Sudeste, especialmente em São Paulo. Corresponde, mais ou menos, à unidade de relevo denominada planaltos e serras do Atlântico Leste-Sudeste (Aziz Ab´Sáber), onde o clima tropical úmido modelou um relevo de morros com vertentes arredondadas conhecidos como meias-laranjas ou mares de morros, que têm origem em serras erodidas principalmente pelas chuvas (serras do Mar, Mantiqueira, Geral, do Espinhaço). Esse domínio era originalmente coberto pela floresta latifoliada tropical (Mata Atlântica), hoje quase extinta (exceto em forma de manchas, como na serra do Mar), representando um dos dois HOTSPOTS brasileiros. Há ainda em alguns trechos outros tipos de vegetação: as Araucárias, em locais de elevada altitude (Campos do Jordão, serra da Bocaina – SP), e pequenas ilhas de cerrado (Rio Claro, São Carlos – SP).
Perfil vegetal: FLORESTA LATIFOLIADA TROPICAL ÚMIDA DE ENCOSTA OU MATA ATLÂNTICA

Fonte: https://renovamidia.com.br/composto-de-planta-da-mata-atlantica-combateleishmaniose-e-chagas/
Ocupa a porção oriental do Brasil do Rio Grande do Norte até o norte do Rio Grande do Sul. Na altura da região Sudeste ela penetra pelo interior, alcançando o sul da região Centro-Oeste, norte do Paraná etc.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS:
- É formada por plantas latifoliadas.
- É do tipo perenifólia.
- É higrófila ou ombrófila.
- É heterogênea (possui grande diversidade de espécies).
- É fechada ou densa.
- Suas árvores podem alcançar 40 metros de altura.
Suas principais espécies são: cedro, canela, ipê, Jacarandá, Jequitibá, Jatobá, pau-brasil, copaíba, entre outras.
ProBizu: No interior da região Sudeste, norte do Paraná e sul da região Centro-Oeste, a Mata Atlântica pode ser chamada de Mata Tropical, Floresta Tropical Decídua ou Subcaducifólia. Alguns geógrafos fazem tal divisão, portanto, fique atento.
CERRADO OU CHAPADÕES TROPICAIS INTERIORES COM CERRADOS E FLORESTAS – GALERIAS
Corresponde, de maneira geral, ao clima tropical típico ou semiúmido (verão chuvoso e inverno seco), à vegetação de cerrado (arbustiva e herbácea) – que apresenta semelhanças com as savanas africanas – e ao planalto Central do Brasil, com suas chapadas e chapadões sedimentares. Nos vales fluviais é habitual o aparecimento das matas galerias ou ciliares (mais diversificada e de maior porte). Apresenta o predomínio de solos pobres e ácidos. A introdução do cultivo da soja em trechos do Cerrado exigiu, para a correção da acidez, o método de calagem (consiste na adição de calcário ao solo). Ao sul desse domínio, próximo às cidades de Ceres (GO) e Campo Grande (MS), aparecem algumas manchas de terra roxa (origem vulcânica), solo de elevada fertilidade natural.
Perfil vegetal: CERRADO

Fonte: https://www.matanativa.com.br/blog/inventario-no-cerrado/
É um tipo de savana encontrado no Brasil Central, algumas áreas da Amazônia, Sudeste e Nordeste. A vegetação é típica das áreas dominadas pelo clima tropical semiúmido, que alterna duas estações: uma chuvosa no verão e uma seca no inverno.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS:
- Solos predominantemente ácidos, pobres em nutrientes e com alta concentração de alumínio, elemento desfavorável às espécies vegetais agricultáveis, por apresentar certa toxicidade.
- Apresenta vários aspectos ou fisionomias: o cerradão, onde predominam as árvores; o cerrado, propriamente dito, onde as árvores se encontram distantes uma das outras, e apresentam troncos tortuosos e recobertos por cortiça espessa; o campo cerrado; o campo sujo e o campo limpo, onde a predominância vegetal cabe à biomassa arbustiva e herbácea.
- As árvores possuem raízes com grande crescimento vertical, troncos com casca grossa e perda de folhas durante a estação seca (plantas caducifólias).
- Possui com biodiversidade, formando ecossistemas ricos com espécies variadas: o bartimão, a gabiroba, o pequizeiro, o pau-terra, o indaiá, entre outras.
O processo de destruição do cerrado intensificou-se nas últimas décadas, representando, ao lado da Mata Atlântica, um dos dois HOTSPOTS brasileiros.
TERRAS BAIXAS DO PANTANAL MATOGROSSENSE
O seu relevo é marcado por uma vasta planície sedimentar localizada na depressão da Bacia do Rio Paraguai, intercalada em alguns pontos por elevações residuais. O seu clima dominante é o tropical subúmido com duas estações bem definidas: verão chuvoso e inverno seco. Sobre as terras do Pantanal desenvolveu-se uma vegetação complexa, com espécies das florestas, dos campos e do cerrado. Nas áreas mais secas a paisagem é semelhante à da caatinga. A junção de ambientes diferentes (terras mais altas, não afetadas por inundações; terrenos intermediários, ocupados pelas águas na época das cheias; e áreas permanentemente alagadas) deu origem à diversidade biológica, por isso, o Pantanal é considerado um verdadeiro “santuário ecológico”. A agropecuária e o extrativismo predatório têm provocado grandes impactos ambientais neste domínio.
Perfil vegetal: MATA GALERIA OU CILIAR

Fonte: https://meioambiente.culturamix.com/gestao-ambiental/mata-ciliar-e-mata-de-galeria
É um tipo de floresta tropical que se desenvolve no Brasil central, nas áreas dominadas pelo clima tropical semiúmido, nas margens dos rios que drenam a região.
A formação de uma floreta depende da umidade do solo e da radiação solar, como no Brasil central o clima é determinado pela presença de uma estação chuvosa no verão e uma estação seca no inverno, as condições não favorecem a formação de florestas, excetuando-se nas margens dos rios, onde a umidade permanente, aliada ao calor tropical, criaram condições para a formação de uma mata. As matas galerias ou ciliares são estreitas, porém bastante longas. Essa mata desempenha um importante papel na contenção do processo de assoreamento e erosão das margens dos rios. Em muitas áreas do Brasil, os produtores rurais estão destruindo progressivamente as matas galerias.
CAATINGAS OU DEPRESSÕES INTERMONTANAS E INTERPLANÁLTICAS SEMIÁRIDAS
Trata-se de uma região semiárida coberta pela caatinga (xerófila), vegetação adaptada ao clima com chuvas irregulares, mal distribuídas e seca prolongada (baixo índice de pluviosidade). Os solos são pouco profundos por causa da expressiva amplitude térmica diária e do predomínio do intemperismo físico (a desagregação mecânica supera a decomposição química das rochas). Mas, justamente pela escassez de chuvas, a erosão e a lixiviação dos solos pelas enxurradas têm pouco relevância, ao contrário do que ocorre na maior parte do país. O relevo desse domínio caracteriza-se pela existência de depressões em quase toda a sua extensão, por ser um território antigo e fortemente erodido pela pediplanização. É comum aparecerem no meio desse domínio os inselbergs – morros residuais, espécies de “testemunhos” de camadas rochosas já erodidas pelo processo de pediplanização. Os inselbergs são compostos geralmente por rochas cristalinas, mais resistentes à erosão (exemplo: Milagres, Patos e Quixadá).
ProBizu: Pediplanização – processo erosivo que ocorre nas regiões áridas e semiáridas. Quase nunca se deve a um só agente, mas a uma combinação deles. Todavia, dependendo do clima, um desses agentes predomina, como chuvas nos climas tropicais úmidos, dando uma feição peculiar ao relevo. Nos climas áridos ou semiáridos, a importância das chuvas é pequena, predominando a ação da temperatura (intemperismo físico ou mecânico) e dos ventos (erosão eólica – processos de corrosão e deflação), que vão aplainando progressivamente o relevo.
Perfil vegetal: CAATINGA (MATA BRANCA)

Fonte: https://blog.biologiatotal.com.br/caatinga-o-semiarido-brasileiro/
Vegetação típica do Nordeste semiárido, a caatinga possui heterogeneidade, compreendendo diferentes tipos: caatinga seca não-arbórea (predomínio de cactáceas e ausência de árvores); caatinga seca arbórea (com predominância de árvores e arbustos isolados); caatinga arbustiva densa (em forma de bosques com árvores isoladas); caatinga de relevo mais elevado (áreas de maior pluviosidade, com bosques mais densos).
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS:
- É formada por plantas xerófilas ou xerófitas (adaptadas a lugares secos).
- Possui arbustos espinhentos, com folhas pequenas, galhos retorcidos, raízes com grande crescimento horizontal (fruto da pouca profundidade dos solos).
- A maioria dos arbustos perdem as folhas durante a estação seca (plantas caducifólias).
- Encontramos ainda inúmeras espécies de cactos, com destaque para o xiquexique, o mandacaru e o facheiro, conhecidos na região como palmas forrageiras, uma vez que são fornecidos ao gado como alimentação no período da seca.
- Também encontramos inúmeras bromeliáceas, com maior destaque para a macambira.
- As principais espécies de arbustos são: algaroba, cabaceira, imbuzeiro, juazeiro etc.
ARAUCÁRIA OU PLANALTOS SUBTROPICAIS COM ARAUCÁRIAS
Trata-se de terrenos preeminantemente sedimentares-basálticos localizados na região do clima subtropical e do planalto meridional do Brasil ou planaltos e chapadas da bacia do Paraná. Nessa região de planaltos e chapadas, revestida por bosques de araucárias de diferentes extensões, dominam as médias altitudes (com variações entre 800 e 1300 metros). Os solos são muito diversificados. Aparecem tanto os solos ácidos e pobres em minerais básicos quanto os de alta fertilidade natural – como as manchas de terra roxa no oeste do Paraná e os brunizens em trechos do Rio Grande do Sul. Os rios são perenes e apresentam vazão pouco variável porque as chuvas são bem distribuídas ao longo de todo o ano, com destaque para o elevado potencial hidráulico da bacia do Paraná. Embora constitua a espécie aciculifoliada subtropical que empresta o visual mais marcante à paisagem, a araucária não é o único tipo de vegetação. Em alguns trechos de solos areníticos, surgem ilhas de cerrados ou de campos. A extensão destes últimos aumentou com a devastação da mata de araucária.
Perfil vegetal: MATA DE ARAUCÁRIA OU DOS PINHAIS

Esse domínio vegetal cobria vastas extensões dos planaltos e serras da Região Sul e de trechos da Região Sudeste. Estendia-se desde as porções nordeste e norte do Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina e Paraná e penetrando nas terras altas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS:
- É uma floresta homogênea (possui poucas espécies).
- É aberta, o que facilita a penetração em seu interior.
- Possui plantas aciculifoliadas (possuem folhas pontiagudas).
Principais espécies: Araucária Angustifólia (Pinheiro do Paraná), canela, imbuia, ipê, erva-mate etc.
PRADARIAS OU COXILHAS SUBTROPICAIS COM PRADARIAS MISTAS
Pode receber diferentes denominações: zona das coxilhas, Campanha Gaúcha, região das campinas meridionais e região dos Pampas. Trata-se do prolongamento pelo território brasileiro dos campos ou pradarias do Uruguai e da Argentina (vegetação herbácea, pequeno porte, típica de climas temperados ou subtropicais). O relevo planáltico ou de depressões destaca-se pelas ondulações do terreno, formando as colinas chamadas de coxilhas. A pecuária extensiva com suas estâncias (fazendas de gado) e rizicultura (cultivo do arroz) são as principais atividades econômicas neste domínio.
Perfil vegetal: CAMPOS OU PRADARIAS

Fonte: https://www.enologuia.com.br/regioes/242-campanha-gaucha-dos-pampas-para-o-mundo
Vegetação rasteira, intercalada com a presença de árvores e arbustos encontrados em vários pontos do território brasileiro.
TIPOS DE CAMPOS:
- Campos limpos (domínio da vegetação rasteira composta por gramíneas e ervas).
- Campos sujos (intercala a vegetação rasteira com pequenos arbustos).
- Campos de Altitude (desenvolve-se em trechos elevados do relevo brasileiro).
- Campos Inundáveis.
- Campos de Hiléia (crescem em manchas no interior da Floresta Amazônica) etc.
Os campos naturais também sofrem a intervenção do homem. Os projetos agropecuários contribuem para a sua degradação e em algumas áreas para a formação de manchas de desertos, como ocorre no sul do Brasil.
Faixas de transição: Encontrados na interseção entre os vários domínios morfoclimáticos brasileiros, as faixas de transição: as Zonas dos Cocais, a Zona Costeira, o Agreste, o Meio-Norte, as Pradarias, o Pantanal e as Dunas. Espalhadas por todo o território nacional constituem importantes áreas ambientais e econômicas.