Estude grátis

Gêneros literários: Gêneros épico/narrativo

O gênero épico/narrativo é uma forma literária que apresenta histórias e acontecimentos. Caracterizado por uma narrativa longa, descreve aventuras, ações heróicas e eventos significativos. Epopeias e romances são exemplos notáveis desse gênero, que tem sido um meio fundamental de contar histórias ao longo da história da literatura.

GÊNERO ÉPICO

A produção literária, durante muitos séculos, foi predominantemente realizada em versos. O ato de contar uma história era levado a efeito pelo poema épico ou epopeia. No entanto, com o advento do Romantismo e a consequente criação do romance, no sentido moderno do termo, a tarefa de contar uma história passou a ser desempenhada por essa nova espécie, bem como por outras espécies, como o conto e a novela. Diante disso, alguns teóricos entenderam que a nomenclatura gênero épico era insuficiente para dar conta de toda uma produção romanesca que pouco tinha em comum com o poema épico. Eis por que a denominação do gênero que estamos estudando apresenta alternativas: épico (para respeitar a origem histórica) ou narrativo (para acompanhar a evolução da criação literária).

A epopeia é uma longa narrativa de caráter heroico, grandioso e de interesse nacional e social. Ela apresenta uma atmosfera maravilhosa que, em torno de acontecimentos históricos passados, reúne mitos, heróis e deuses. É escrita em versos. Quando estudamos os versos que elucidam o enredo de uma epopeia, percebemos que segue uma estrutura:

  • Proposição – O poeta começa por declarar aquilo que se propõe fazer, indicando de forma sucinta o assunto da sua narrativa;
  • Invocação – O poeta clama pela ajuda e pela proteção dos seres mitológicos para que, por meio do auxílio deles, consiga inspiração para escrever.
  • Dedicatória – São os versos em que o poeta mostra para quem é dedicada toda a epopeia. Em Os Lusíadas, por exemplo, Camões dedica sua obra ao rei D. Sebastião.
  • Narração – Parte em que os grandes feitos e aventuras são narrados.
  • Epílogo – Encerramento.

As epopeias apresentam uma linguagem grandiloquente e são sempre narradas em terceira pessoa, mantendo-se, assim, um distanciamento. Trata-se de um poema muito extenso que narra um feito pretérito. O maior representação de uma epopeia na Literatura Portuguesa é Os Lusíadas de Camões. Alguns estudiosos consideram a obra O Uraguai de Basílio de Gama como uma epopeia.

GÊNERO NARRATIVO

Nomeamos por gênero narrativo os textos que têm por objetivo narrar uma ficção. No texto narrativo, o autor cria um mundo ficcional em que personagens, inseridos em um tempo e espaço específicos, desenvolvem ações (enredo) que serão contadas em primeira ou terceira pessoa por narrador.

Vejamos, então, os elementos necessários para se elaborar uma narrativa ficcional.

ENREDO: É a sequência de ações (trama) que será desenvolvida em uma história.

NARRADOR: Ser de caráter ficcional (faz parte da narrativa) que relata a história.

FOCO NARRATIVO

1ª PESSOA: O narrador está inserido na trama e dela participa de forma integral ou parcial.

  • Narrador personagem principal: conta a própria história, contaminando a narrativa com a sua visão pessoal sobre o fato narrado. Veja o exemplo extraído do capítulo inicial do livro Dom Casmurro:

“Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso”.

  • Narrador personagem secundário: não é o protagonista da obra, mas está perto dele. Observe o exemplo retirado do livro Um estudo em vermelho que narra as peripécias de Sherlock Holmes:

“Encontramo-nos no dia seguinte, conforme o combinado, e fomos ver o apartamento no número 221-B da Baker Street, que consistia em dois confortáveis quartos de dormir e uma espaçosa sala de estar, alegremente mobiliada e iluminada por duas amplas janelas. Ele preenchia tão bem as nossas necessidades e seu preço era tão módico, dividido por dois, que imediatamente o alugamos e recebemos a chave. Nessa mesma tarde mandei vir do hotel as minhas coisas, e na manhã seguinte Sherlock chegou com as suas várias caixas e maletas. Durante um dia ou dois estivemos ocupados com a arrumação dos nossos objetos pessoais. Feito isso, começamos, pouco a pouco, a nos adaptar ao nosso novo ambiente”.

3ª PESSOA: O narrador está fora dos acontecimentos narrados, por isso, possui certo distanciamento da narrativa.

  • Narrador onisciente: possui total ciência de tudo o que acontece, sendo assim, sabe com precisão dos sentimentos e dos pensamentos dos personagens. Analise o fragmento retirado do romance de Senhora de José de Alencar:

“Aurélia concentra-se de todo dentro de si; ninguém ao ver essa gentil menina, na aparência tão calma e tranquila, acreditaria que nesse momento ela agita e resolve o problema de sua existência; e prepara-se para sacrificar irremediavelmente todo o seu futuro”.

  • Narrador observador: relata tudo que os olhos são capazes de observar, não sabe nada sobre o íntimo dos personagens. Possui olhar objetivo para descrever cenas e personagens. Veja o exemplo presente em Iracema de José de Alencar:

“Iracema passou entre as árvores, silenciosa como uma sombra: seu olhar cintilante coava entre as folhas, qual frouxos raios de estrelas; ela escutava o silêncio profundo da noite e aspirava as auras sutis que aflavam. Parou. Uma sombra resvalava entre as ramas; e nas folhas crepitava um passo ligeiro, se não era o roer de algum inseto. A pouco e pouco o tênue rumor foi crescendo e a sombra avultou”.

TIPOS DE DISCURSO

É como se caracteriza as diferentes formas que o narrador possui para apresentar as falas dos personagens.

DISCURSO DIRETO: É a transcrição fiel da fala dos personagens. É introduzido por meio de aspas, travessões e emprega verbos dicendi (verbos de elocução).

Exemplo:
   “Maurício saudou, com silenciosa admiração, esta minha vida avisada malícia. E imediatamente, para meu príncipe: – Há três anos que não te vejo Jacinto… Como tem sido possível, neste Paris que é um aldeola, e que tu atravancas?”.

DISCURSO INDIRETO: O narrador, em vez de retratar as falas de forma direta, as reproduz mediante o atributo de suas próprias palavras, colocando-se na condição de intermediário frente à ocorrência.

Exemplo:
       “Maurício disse que não via Jacinto há três anos”.

DISCURSO INDIRETO LIVRE: As formas direta e indireta fundem-se por meio de um processo em que o narrador insere, discretamente, a fala ou os pensamentos do personagem em sua fala. Embora ele não participe da história, instala-se dentro de suas personagens, confundindo sua voz com a delas.

Exemplo:
      “Olhava-a, abria-a e chegava mesmo a aspirar-lhe o perfume do forro, misto de verbena e de fumo. A quem pertenceria?… Ao Visconde. Era talvez presente da amante”.

Observação: Alguns textos são narrados por meio do fluxo de consciência. Essa estratégia foi magistralmente desenvolvida pelo célebre escritor James Joyce, sendo um recurso estilístico muito valioso. Trata-se de uma forma de narrar que apresenta diretamente todo o pensamento de uma personagem, expõe-se a história dentro da mente dela. Isso faz com que o desenrolar dos fatos se torne, por vezes, mais confuso para o leitor. Observe o fragmento retirado do livro A paixão segundo G.H. de Clarice Lispector:

“A lembrança de minha pobreza em criança, com percevejos, goteiras, baratas e ratos, era de como um meu passado pré-histórico, eu já havia vivido com os primeiros bichos da Terra. 

Uma barata? Muitas? Mas quantas?! Perguntei-me em cólera. Vagueei o olhar pelo quarto nu. Nenhum ruído, nenhum sinal: mas quantas? Nenhum ruído e, no entanto, eu bem sentia uma ressonância enfática, que era a do silêncio roçando o silêncio. A hostilidade me tomara. É mais do que não gostar de baratas: eu não as quero. Além de que são a miniatura de um animal enorme. A hostilidade crescia.

Não fora eu quem repelira o quarto, como havia por um instante sentido à porta. O quarto, com sua barata secreta, é que me repelira. De início eu fora rejeitada pela visão de uma nudez tão forte como a de uma miragem; pois não fora a miragem de um oásis que eu tivera, mas a miragem de um deserto. Depois eu fora imobilizada pela mensagem dura na parede: as figuras de mão espalmada haviam sido um dos sucessivos vigias à entrada do sarcófago. E agora eu entendia que a barata e Janair eram os verdadeiros habitantes do quarto”.

É como se o autor “largasse” a personagem, deixando-a entregue a si mesma, às suas divagações, resultando um texto que realiza uma associação livre de ideias, de feitio incoerente, desconexo, sem os nexos ou enlaces sintáticos de um texto “bem comportado”.  No fluxo de consciência, o pensamento simplesmente flui, pois a personagem não pensa de maneira ordenada.

PERSONAGEM: Aqueles que desempenham as ações na narrativa.

TEMPO: O tempo tem papel imprescindível em uma narrativa. Situa-nos na história, seja ele o tempo marcado por datas e horas ou o tempo percebido pela personagem. A sua função é a de nos manter situados, de maneira que possamos entender melhor os fatos. 

TEMPO CRONOLÓGICO: Marca-se de acordo com o ritmo do relógio, pelo movimento do sol, pelo calendário, estação do ano etc. É um tempo objetivo e facilmente notado pelo leitor.

Seriam nove horas do dia. Um sol ardente de março esbate-se nas venezianas que vestem as sacadas de uma sala, nas Laranjeiras.”

TEMPO PSICOLÓGICO: Não obedece à cronologia, ou seja, não mantém nenhuma relação com o tempo propriamente dito, ele transcorre no interior de cada personagem e é determinado pelo desejo ou imaginação do próprio personagem (ou do narrador), de acordo com suas vivências subjetivas, angústias e ansiedades. O tempo psicológico é o tempo interior e pode ser alongado ou encurtado de acordo com o estado de espírito em que se encontra, ele muda de pessoa para pessoa.

Exemplo:
   Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso”.

ESPAÇO: É o ambiente por onde circulam personagens e onde se desenrola o enredo.

Exemplo:
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma”.

CURSO EEAR 2023

ESA 2022

de R$ 838,80 por R$ 478,80 em até 12x de:

R$ 39,90/MÊS

SOBRE O CURSO:

SOBRE O CURSO:

SOBRE O CURSO:

Precisando
de ajuda?

Olá ProAluno!
Em que posso te ajudar?