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As Unificações Tardias: A unificação italiana

Existem várias maneiras de discorrer acerca de um fenômeno histórico. Um dos métodos mais tradicionais, e criticado pela historiografia francesa dos Annales, é a “história dos grandes homens”. Contudo, a história recente da Itália pode ser resumida a partir de um nome: Giuseppe.

A Península Itálica talvez seja a região europeia que guarda as mais preciosas obras artísticas da Humanidade: desde o período do Império Romano, do qual o Ocidente herdou a língua, o Direito, a religião – a partir da suposta doação de Constantino –, perpassando pela história da instituição do catolicismo como poder universal, até o Renascimento Cultural de Maquiavel, Dante, Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Donatelo, Rafael e tantos outros que, se o espaço e a memória permitissem, divagaríamos eternamente.  

Contudo, a Itália, cuja fragmentação política parece ter colocado num injusto ostracismo durante o Antigo Regime, suscita novas paixões no século XIX. O Risorgimento, movimento pela unificação da Itália, alteraria, irremediavelmente, o mapa da região, concedendo aos italianos, ou melhor, aos napolitanos, venezianos, lombardos, sicilianos e aos demais grupos nacionais, algo que nunca tiveram desde a Antiguidade: uma suposta unidade política.  

Observação: Em 1815, o Congresso de Viena, reunião das potências vencedoras contra a França napoleônica, adota o princípio de equilíbrio europeu ou territorialidade: as fronteiras do Velho Continente deveriam retornar ao status anterior à Revolução Francesa. O equilíbrio, preconizado por Metternich, delegou à Península Itálica uma divisão em cerca de oito Estados ou regiões distintas, entre áreas controladas pela Áustria, Estados papais e principados absolutistas. O pequeno reino do Piemonte-Sardenha, onde a nobreza cultuava o francês como idioma corrente, daria 46 anos depois, o primeiro rei para a Itália: Vitor Emanuel.

(Fonte: http://www.professoraisabelaguiar.com/2012/10/unificacao-da-italia-e-alemanha.html)

A Giovine Itália, sociedade patriótica revolucionária, fundada pelo nacionalista Giuseppe Mazzini, em 1832, foi uma das maiores expressões deste sentimento contra a dispersão política e controle estrangeiro. Contudo, seriam as personalidades de dois líderes que definiriam as possíveis linhas de conduta da unificação deste intricado mosaico: Conde de Cavour, típico aristocrata que advogava um liberalismo limitado e monárquico; e Giuseppe Garibaldi, defensor do ideal liberal radical republicano.  

Outro Giuseppe, de sobrenome Tomasi ou, pelo título aristocrático, príncipe de Lampedusa, escreveu um romance em que sintetiza o apoio dos nobres da Itália à proposta de Cavour, mesmo que isso significasse a subordinação de toda a península ao Piemonte: “às vezes, torna-se necessário que algumas coisas mudem, para que tudo permaneça como está”. Em O Leopardo, o lamento da decadente aristocracia siciliana revela a percepção de que a união política era inevitável. Todavia, o processo deveria ser conduzido por alguém que preservasse os direitos de nobreza e a propriedade privada.

Um compositor que, ao lado de Richard Wagner, foi o maior músico erudito do Século das Unificações, também era Giuseppe. Em 1858, na cidade de Nápoles, era ovacionado aos brados de “Viva Verdi!”. Um subterfúgio para codificar uma mensagem nacionalista: “Viva Vittorio Emanuele, Rè D’Italia”.  

Observação: O liberalismo, desde o Século das Luzes de Voltaire, significava ser anticlerical e antiabsolutista. E, se a arte de Verdi era aristocrática, estava paradoxalmente impregnada de símbolos liberais. As óperas Un ballo in maschera e Rigoletto foram censuradas: a primeira porque retratava o assassinato de um rei; a segunda, pela famosa acusação do bobo da corte, no segundo ato, Cortigiani, vil razza dannata. Os famosos coros dos hebreus exilados de Nabucco e dos escoceses deportados de Macbeth foram interpretados como um “lamento patriótico italiano”. Em Aída, os padres são os vilões, assim como no entrave que representavam à unificação. O estudo das unificações nacionais é uma preciosa oportunidade não apenas para o estudo da história política, mas também da história social e cultural. As divergências entre o Estado italiano e o papado seriam contornadas somente em 1929, quando o Sumo Pontífice celebrou o Tratado de Latrão com o líder fascista Benito Mussolini.

Desde as revoluções de 1830, diversos grupos italianos promoveram movimentos liberais de caráter nacionalista, com o intuito de anular a presença estrangeira na península e concretizar o sonho da unificação. O projeto seria concluído com um intricado jogo de acordos entre Cavour e a França de Napoleão III (pacto de Plombières), batalhas campais contra o império austríaco, que se estenderam até a Primeira Guerra, e vantagens oriundas das guerras de unificação da Prússia.

Em 1858, consoante os acordos de Plombières e Turim entre o Piemonte e a França, Cavour ordena uma ofensiva militar contra as tropas austríacas estacionadas na Lombardia. Napoleão III apoia militarmente os italianos em troca dos territórios piemonteses de Nice e Savoia, o que seria conhecido como “política das gorjetas”, exigindo, ainda, de Cavour o compromisso de respeitar os Estados centrais pertencentes à Igreja Católica. As derrotas austríacas em Magenta (4 de junho de 1859) e Solferino (24 de junho de 1859), porém, não feriram mortalmente os austríacos, que mantiveram o seu domínio sobre o território da Venécia.  

Em 1860, levantes nacionalistas em Parma, Módena, Romagna e Toscana são vitoriosos, sendo estes Estados incorporados ao Piemonte através de plebiscitos. Entre 1860 e 1861, Giuseppe Garibaldi organizou a marcha dos “mil camisas vermelhas”, na qual a assustada aristocracia do Sul concordou com o projeto nacionalista e conservador de Cavour, sendo realizados plebiscitos em favor da unificação na Sicília, Úmbria e Marca. Em março de 1861, Vitor Emanuel foi proclamado rei dos italianos. A Igreja Católica, pela Encíclica Syllabus errorum, de 1864, sentindo-se ameaçada, condenou o sindicalismo, o liberalismo, o nacionalismo e a democracia. Em 1866, com a derrota austríaca frente ao exército de Bismarck, os italianos aproveitaram para ocupar finalmente a Venécia. Entre setembro de 1870 e janeiro de 1871, completou-se a unificação italiana no século XIX: os franceses, que garantiram a segurança dos Estados Papais, são derrotados pelos prussianos de Bismarck. Os italianos ocuparam Roma, a qual se tornaria a nova capital do Império, e o Papa Pio IX ficou confinado no bairro do Vaticano.

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