REVOLTA DE BECKMAN – 1684 – MARANHÃO
Na região da capitania do Maranhão, durante o final do século XVII, os produtores de algodão tinham muita dificuldade para a obtenção de escravos e manufaturas. Isso ocorria porque as companhias de comércio buscavam priorizar o litoral produtor de açúcar, pelo fato da região ter maior demanda de escravos e melhor capacidade econômica. Mesmo com o surgimento do açúcar holandês, produzido nas Antilhas, e sua concorrência, o principal produto de exportação da balança comercial da colônia portuguesa ainda era o açúcar.
A dificuldade na obtenção de escravos ainda era agravada pela proibição de escravizar novos índios. Essa legislação, fruto da pressão do Padre Antônio Vieira no ano de 1680, dificultou a vida dos proprietários de terras maranhenses, que viam dificuldade para a obtenção de mão de obra e manufaturas. Em resposta a essa legislação, os colonos reclamaram juntamente da Metrópole, exigindo uma solução para o problema.
Portugal, por sua vez, atendeu a demanda dos colonos criando, em 1682, a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, sendo seu objetivo comercializar escravos e manufaturas nessa capitania. Entretanto, a companhia de comércio passava a ter o monopólio comercial na região, tornando o preço dos produtos inacessíveis à realidade financeira dos colonos.
Como resposta, no ano de 1684 os proprietários de terra liderados por Manuel Beckman, Tomás Beckman e Jorge Sampaio tomaram a sede da capitania do Maranhão e expulsaram os jesuítas e a companhia de comércio. Os revoltosos acreditavam que tanto a companhia quanto a ordem religiosa criavam dificuldades para os colonos acessarem a mão de obra escrava e os produtos manufaturados. Esse movimento de revolta ficou conhecido como Revolta de Beckman. Os revoltosos tinham como proposta a abolição do monopólio da companhia de comércio e uma relação comercial mais justa com Portugal. Manuel Beckman ficou responsável pelo governo do Maranhão, enquanto que seu irmão Tomás Beckman, foi a Portugal apresentar as reivindicações dos revoltosos. Quando chegou em Portugal, Tomás Beckman acabou sendo preso e foi reenviado para o Brasil, se tornando uma peça fundamental na captura de seu irmão Manuel Beckman.
Para responder ao movimento, os portugueses enviaram tropas de Portugal para o Maranhão, com o objetivo de prender seus líderes. No mesmo ano de 1684, com a chegada das tropas portuguesas na região, o movimento foi duramente reprimido e seus principais líderes, Manuel Beckman e Jorge Sampaio, foram enforcados. Como consequência da revolta a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão foi extinta em 1685 e a legislação que proibia a escravidão indígena suspensa.
GUERRA DOS MASCATES – 1709-1711 – PERNAMBUCO

Vista da Cidade Maurícia e do Recife, de Frans post, 1653. Local que ocorreu a Guerra dos Mascates, na disputa entre senhores de engenho e grandes comerciantes.
No início do século XVIII, a região de Pernambuco ainda enfrentava as consequências da invasão holandesa, ocorrida no século XVII. Com a quebra do monopólio de açúcar português, os senhores de engenho da vila de Olinda sofreram consideráveis perdas econômicas, enfraquecendo seu poder na região. Em contrapartida, a cidade de Recife transformava-se num importante polo atrativo para os comerciantes, tornando-se a principal praça mercantil da região nordeste.
A prosperidade de Recife era resultado da gestão de Maurício de Nassau, que durante as invasões holandesas modernizou a cidade, aperfeiçoando sua zona portuária e criando condições para o fortalecimento do comércio.
Como consequência os comerciantes de Recife, chamados de mascates, tornaram-se mais poderosos economicamente que os senhores de engenho, gerando um cenário de disputa entre os dois grupos.
Entretanto, no campo político, a vila de Olinda mantinha o controle político do território de Recife. Por ser a única vila da região, todas as decisões políticas eram realizadas na Câmara Municipal de Olinda, subordinando Recife à sua autoridade.
Na prática os senhores de engenho tinham o controle político da região, mesmo sendo economicamente inferiores aos mascates. Para agravar ainda mais a situação, os mascates eram credores dos senhores de engenho, com empréstimos realizados para a manutenção da produção de açúcar.
Por esses motivos, os mascates começaram a pleitear junto à Portugal a elevação da cidade de Recife à condição de vila, com o intuito de acabar com a sua dependência política frente à vila de Olinda e, consequentemente, frente aos senhores de engenho.
A autonomia política da cidade de Recife foi conquistada parcialmente em 1709, com a criação de sua própria Câmara Municipal. Em resposta, mediante a utilização de diversos argumentos, os senhores de engenho, liderados por Bernardo Vieira de Melo, invadiram Recife utilizando a força para impedir essa autonomia. Sem condições de resistir, os comerciantes mais ricos fugiram para não ser capturados. Esse episódio ficou conhecido como Guerra dos Mascates.
Em 1711, a cidade de Recife, no sentido político, foi equiparada à cidade de Olinda e, com a intervenção portuguesa na região, os revoltosos foram duramente reprimidos. Com a prisão do senhor de engenho Bernardo Vieira de Melo, a Guerra dos Mascates chegava ao fim