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Análise de Textos: Tipologia textual

Quando falamos em tipo textual, atualmente conhecido como modo de organização do discurso ou modo textual, nos referimos à forma como o texto se organiza em relação à informação que será apresentada, aos aspectos sintáticos, aos tempos dos verbos, às relações lógicas etc.

Tradicionalmente os tipos textuais são classificados de três formas: narrativo, descritivo e dissertativo (informativo ou argumentativo). Entretanto, atualmente, estudiosos defendem a existência de mais dois tipos textuais: o injuntivo e o dialogal.

É imprescindível lembrar que esses modos de organização do discurso nem sempre aparecem “puros” no texto, ou seja, dificilmente encontraremos textos com características unicamente narrativas ou descritivas. Em um romance, por exemplo, vemos a imbricação entre a narração do enredo e a descrição do espaço.

É importante ressaltar que muitas pessoas fazem confusão entre tipo textual e gênero textual. O gênero textual é um formato que se propõe a uma finalidade. Assim, uma lenda, uma ata de reunião, uma carta, uma fábula, uma receita, uma bula de remédio são diferentes gêneros textuais que possuem formatos distintos. Esses formatos permitem ao leitor identificar, por exemplo, a distinção entre a bula de remédio de a receita de um bolo, pois a forma como o texto é predisposto facilita a verificação do que o texto quer de fato comunicar. Podemos constatar, dessa forma, que temos inúmeros gêneros e que nesses gêneros podemos encontrar cinco tipos textuais. Para que fique mais fácil compreender, vamos analisar abaixo cada tipo textual.

NARRAÇÃO

A construção de um texto narrativo pressupõe a existência de um narrador, que pode ou não ser apresentado de forma explícita no texto. Este narrador tem como objetivo relatar fatos, que ocorreram em determinado tempo e lugar e que envolvem personagens. Assim, podemos entender que no texto narrativo há uma sequência de ações que ocorrem ao longo do tempo, mantendo a progressão temporal e consequentemente a sequência lógica do texto. Além disso, é possível observar a predominância de verbos de ação. Vejamos os exemplos abaixo:

Exemplo: 

Texto 1

Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.

— Basta de guerra — disse a coruja. O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.

— Perfeitamente — respondeu a águia. — Também eu não quero outra coisa.

— Nesse caso combinemos isto: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.

— Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?

— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.

— Está feito! — concluiu a águia.

Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.

— Horríveis bichos! — disse ela. Vê-se logo que não são os filhos da coruja.

E comeu-os.

Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.

— Quê? — disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? 

Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…

Exemplo: 

Texto 2

TRAGÉDIA BRASILEIRA

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.

Conheceu Maria Elvira na Lapa prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. 

Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura… Dava tudo quanto ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa.

Viveram três anos assim.

Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.

Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos… 

Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. 

Manuel Bandeira 

Exemplo: 

Texto 3

EDUARDO E MÔNICA

Quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram.

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer…
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
“Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”

Festa estranha, com gente esquisita
“Eu não tô legal”, não agüento mais birita”
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
“É quase duas, eu vou me ferrar…”

Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete,
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard

Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de “camelo”
O Eduardo achou estranho, e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo

Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô

Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema: “escola, cinema clube, televisão”.

E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser…

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar…

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (nããão)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular

E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela
E vice-versa, que nem feijão com arroz

Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação
Ah! Ahan!

E quem um dia irá dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão!

Renato Russo

O texto do exemplo 1 é uma fábula. Esse gênero textual é organizado em uma estrutura específica, pois quase sempre seus personagens são bichos, que ganham características humanas e, além disso, tem sempre um ensinamento moral, revelado ao final da história. O texto 2 e o texto 3 também são predominantemente narrativos, embora pertençam a gêneros diferentes: o texto 2 é um romance e o texto 3 é uma música.

É importante também destacar que o texto 1 tem caráter fantástico, pois a fábula não se compromete com a veracidade dos fatos, pelo contrário, as fábulas são fantasiosas e figuradas. Já o texto 2 tem objetivo comunicativo diferente, pois é um texto com personagens bem definidos e que, principalmente, se compromete com a veracidade dos fatos relatados da mesma maneira que acontece com o texto 3.

Observe o quadro abaixo:

Observe que utilizamos a palavra predominante para classificar a tipologia, pois, em ambos os textos, verificamos também a existência de trechos descritivos, que não são suficientes para classificarmos os textos como descritivos.

DESCRIÇÃO

O texto descritivo apresenta uma sequência de características de um indivíduo, de um objeto, de um lugar etc. Textos descritivos geralmente são ricos em adjetivos ou expressões qualificativas e têm como objetivo a construção da imagem, pois o leitor é capaz de visualizar o que é descrito apenas com os dados apresentados no texto. Tradicionalmente, é comum considerar que o texto descritivo é mais estático já que se fundamenta no espaço enquanto o texto narrativo apresenta movimento uma vez que se fundamenta no tempo.

Exemplo: 

Texto 1

Trecho retirado do livro Madame Bovary

A fachada de tijolos era perfeitamente alinhada à beirada da rua, ou melhor, da estrada. Atrás da porta estavam pendurados uma capa de gola curta, um freio, um boné de oleado e, a um canto, no chão, um par de polainas ainda cobertas de lama seca. À direita era a sala, isto é, o lugar onde comiam e onde sempre ficavam. Um papel cor de canário, com cercadura de flores descoradas, tremia sobre o pano em que estava colado; cortinas de chita branca, orladas de galão vermelho, entrecruzavam-se nas janelas e na estreita pedra do fogão resplandecia um relógio com a cabeça de Hipócrates entre dois castiçais de prata lavrada, debaixo de redomas ovais. Do outro lado do corredor estava o gabinete de Carlos, pequena peça de dois metros de largura, mais ou menos, com uma mesa, três cadeiras e uma poltrona.

Gustave Flaubert

Exemplo: 

Texto 2

ANÚNCIO DE JORNAL

Vendo sitio 18 hectares, belíssimas cachoeiras com várias quedas, vários poços para tomar banho, o sitio é cortado por duas enormes cachoeiras, 2 lagos de peixe, pés de laranja, tangerina, caqui entre outros. Aproximadamente 1500 pés de banana, 2 casas c 2quartos sala, cozinha e banheiro e varanda, um barracão de madeira, galinheiro. Lugar para quem gosta de tranqüilidade. Também posso vender a metade do sitio com uma casa O SÍTIO TEM CADASTRO NO INCRA E NO IBAMA, OS IMPOSTOS ESTÃO EM DIA. Tel convencional só horário comercial documentação em meu nome.

Exemplo: 

Texto 3

A CASA

Era uma casa
Muito engraçada 
Não tinha teto 
Não tinha nada 
Ninguém podia 
Entrar nela não 
Porque na casa 
Não tinha chão 
Ninguém podia 
Dormir na rede 
Porque a casa 
Não tinha parede 
Ninguém podia 
Fazer pipi 
Porque penico 
Não tinha ali 
Mas era feita 
Com muito esmero 
Na Rua dos Bobos 
Número Zero.

Vinícius de Moraes

A respeito dos textos acima, observamos que, apesar de serem de gêneros diferentes, ambos são predominantemente textos descritivos.

Observe o quadro abaixo:

INJUNÇÃO

No texto injuntivo, o autor tenta fazer com que leitor tome atitudes a partir de uma sequência de comandos por meio do convencimento. O texto injuntivo geralmente apresenta ordem, pedido, conselho etc. e, por isso, há predominância de verbos no imperativo e a ordenação seriada das informações, especialmente sob a forma de orações coordenadas.

Exemplo: 

Texto 1

RECEITA DE PIZZA

1. Peneire a farinha e o sal em uma tigela grande. Adicione o fermento e misture. 

2. Faça um buraco no centro dos ingredientes secos. Despeje a água e o azeite e mexa até formar uma massa mole. 

3. Amasse a massa sobre uma superfície levemente enfarinhada por mais ou menos 10 minutos, até que ela fique lisa e elástica. 

4. Coloque a massa em uma tigela untada e cubra com plástico transparente. Deixe-a em um local morno para crescer por mais ou menos 1 hora, até que ela tenha dobrado de tamanho. 

5. Amasse novamente a massa. Coloque-a sobre uma base levemente enfarinhada e amasse por 2 a 3 minutos. Abra a massa como desejado e coloque-a em uma fôrma untada. A massa está pronta para a cobertura.

Disponível em: http://www.muitomaisreceitas.com.br/receitas/tortas_paes_e_pizzas/massa_basica_para_pizza.html

Exemplo: 

Texto 2

OS ANJOS

Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira
Coloque tudo numa forma
Untada previamente
Com promessas não cumpridas
Adicione a seguir o ódio e a inveja
Dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça antes de levar ao forno temperar
Com essência de espírito de porco
Duas xícaras de indiferença
e um tablete e meio de preguiça (…)

(Trecho da música os anjos de Renato Russo)

Exemplo: 

Texto 3

PROPAGANDAS

Como observamos acima, os textos, apesar de serem de gêneros diferentes, apresentam a mesma tipologia: a injunção. Nos exemplos 1 e 2, percebemos a preocupação do autor em orientar o leitor na execução de algo. No exemplo 1, temos um sequência de ações que devem ser empregadas na ordem dada para que seja possível fazer a pizza. No exemplo 2, verificamos que o compositor Renato Russo adiciona ao gênero música um trecho do gênero receita. No exemplo 3, é possível notar que, embora os textos não apresentem uma sequência de ações a serem tomadas pelo leitor, as propagandas têm como objetivo convencer o leitor a tomar a decisão de adquirir o produto. Note que em ambos os textos verificamos a predominância de verbos no imperativo, por ser este, dentro do que considera a tradição gramatical, o modo verbal responsável pelos sentidos de ordem, pedido, conselho, sugestão ou súplica.

Observe o quadro abaixo:

DISSERTAÇÃO

O texto dissertativo é elaborado a partir da apresentação de fatos, opiniões, pensamentos ou informações sobre determinado assunto. Geralmente, as ideias apresentadas são encadeadas utilizando-se a terceira pessoa do singular, uma das formas de marcar gramaticalmente a impessoalidade, entretanto, nas provas de interpretação, é comum observar textos dissertativos em que o autor se utiliza tanto da primeira pessoa para expor sua opinião.  A depender do objetivo do autor, a dissertação pode ser expositiva (texto informativo) ou argumentativa e geralmente dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão. A diferença básica entre os dois tipos de texto é que, no primeiro, o autor não se propõe a convencer o leitor, fazendo apenas uma explicação sobre o assunto apresentado, relatando dados e ideias. Já na argumentação, o autor, além de tentar convencer o leitor a respeito da ideia apresentada, emprega um raciocínio lógico e coerente, utilizando como base de argumentação provas que evidenciem suas ideias. 

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