Em dezembro de 1811, Quito proclamou sua independência. Em 25 de maio de 1810, Manuel Belgrano declarou a independência argentina. Das Províncias Unidas do Rio da Prata, o movimento sedicioso se espalha como rastilho de pólvora para os países vizinhos. No Paraguai, Yegros e José de Francia declararam a independência. No ano seguinte, Bernardo O’Higgins proclamou a independência do Chile. Os espanhóis, contudo, mantiveram firme resistência no Vice-Reino do Peru.
Os mexicanos assistiram dois movimentos de independência malograrem: a frustrada e precoce tentativa do vice-rei Iturrigaray e o movimento popular do padre Hidalgo que, sob o pavilhão de Nossa Senhora de Guadalupe, incitou indígenas e mestiços a procurarem a liberdade. Apesar da execução de Hidalgo em julho de 1811, o padre criollo Morelos prosseguiu com a sua luta em 1813.
O grande nome da independência da América Espanhola, contudo, é o de Simón Bolívar. Dois países renderam-lhe homenagem: a República de Bolívia e, mais recentemente, a República Bolivariana da Venezuela. Assim como é impossível andar pela América, da Venezuela à Bolívia, sem passar por uma Calle Bolívar ou Plaza Bolívar, é impossível falar em independência da América Espanhola sem falar em Bolívar; o “libertador”, como também é conhecido, proclamou em dezembro de 1812, a segunda República da Venezuela. O projeto de Bolívar, inicialmente, teve a mesma má sorte da empresa de Miranda. Bolívar, para evitar o mesmo destino de seu antecessor, foge para a Jamaica em maio de 1815. Quito seria retomada ainda em 1812. Morelos, em 1814, também sofre a reação realista e seu ambicioso projeto separatista popular é rechaçado pelas forças reacionárias de Itúrbide. A Junta de Chilpancingo é dissolvida e Morelos tem o mesmo destino de Hidalgo, sendo executado em dezembro de 1815. No Chile, a situação seria a mesma. Somente os países do Vice-Reino do Prata esboçam uma aguerrida resistência contra a Espanha.
Em 1815, Fernando VII recupera o trono. Um dos primeiros esforços do novo monarca espanhol consiste em revogar a Constituição napoleônica de 1812, recheada de princípios liberais que contradiziam a mais tradicional moda absolutista de Espanha. Bolívar, contudo, iniciaria em 1o de janeiro de 1817 o irreversível processo de independência da América Espanhola, ao desembarcar com um pequeno exército de patriotas de volta do exílio. Com uma força militar heterogênea, que combinava criollos, índios llaneros e estrangeiros veteranos das campanhas napoleônicas, o “libertador” conquistou Nova Granada e, posteriormente, em 1819, rasgou os Andes, promulgando a independência em cada país por que passou. Em 1819, a Colômbia foi finalmente libertada, sendo acompanhada, em 1821, pela Terceira República venezuelana. Em 1814, San Martin, sucessor de Belgrado, organizou o processo militar que consolidaria a independência da Argentina, Bolívia e Chile. Os mercenários ingleses foram bem-vindos, desta vez, como Lord Cochrane. Em março de 1816, no Congresso de Tucumã, a união nacional Argentina congregou em favor da independência.
A situação no Peru, contudo, ainda foi de resistência espanhola. A provável participação indígena no processo de independência tornou a elite criolla peruana resistente à aventura política. A rebelião inca de Tupac Amaru do século XVIII, ainda estava fresca na memória. A ação de San Martin, entretanto, promovia a independência do Peru em 1821. A resistência espanhola foi sentida até 1842, quando Antônio José Sucre destruiu os últimos focos realistas na famosa batalha de Ayacucho. A América Central tornou-se livre em 1824. A Bolívia se desmembrou do Peru em 1825 e a Província Cisplantina se tornou independente do Brasil em 1828, assumindo o nome de República Oriental do Uruguai.
No México, Itúrbide, que havia sufocado a independência e executado Morelos, recebeu as notícias sobre a Revolução de 1820 na Espanha e resolveu satisfazer suas ambições pessoais, proclamado-se imperador Augustín I, em 18 de maio de 1822, com apoio dos aliados de véspera na luta contra Morelos: a elite criolla e o alto clero. O novo imperador, entretanto, tão despótico quanto a Espanha de outrora, entrou em conflito com a Assembleia Nacional, sendo obrigado a abdicar em 19 de março de 1823. Uma tentativa de golpe do imperador fracassa e Itúrbide é fuzilado em 18 de julho de 1824.
No Haiti, a Espanha fundou a sua primeira fortificação na América em 1492 na ilha Hispaniola, dividida atualmente em Haiti e República Dominicana. Em fins do século XVI franceses se estabeleceram na parte oeste da ilha e em 1691 a Espanha cedeu, por meio de um tratado a parte ocidental, fundando ali a colônia de São Domingos. Em 1791 François-Donminique Toussaint Louverture, liderou uma rebelião que resultou na abolição da escravidão no Haiti, além de efetuar a execução de proprietários brancos e o confisco de terras que foram distribuídas aos negros. Em 1793, os jacobinos assumem o poder na França e decretam o fim da escravidão nas colônias francesas. Louverture ascende ao poder e conquista também a parte oriental da ilha (pertencente à Espanha), mas os brancos e mestiços se opõem ao seu governo. Aproveitando-se do enfraquecimento do poder de Louverture, Napoleão enviou em 1801 um expedição para retomada do controle francês sob a ilha. Louverture foi preso e deportado para França. Porém Jean–Jacques Dessalines assumiu o controle e em 1804 proclamou a independência da colônia. O novo estado recebeu o nome de Haiti.
AS CONSEQUÊNCIAS
As duas nações mais interessadas no processo de independência da América espanhola eram a Inglaterra e os Estados Unidos. O primeiro-ministro inglês George Canning, e o presidente dos Estados Unidos James Monroe, prestaram valioso auxílio diplomático no sentido de reconhecer prontamente a independência das ex-colônias. Os ingleses estavam interessados na manutenção do livre-comércio que beneficiava suas nascentes indústrias e os norte-americanos, através da Doutrina Monroe (1823), iniciavam um processo que culminaria com a hegemonia dos Estados Unidos no continente. A América Espanhola, à exceção de Cuba e Porto Rico, que somente seriam abandonados em 1898, estava livre do domínio real de Fernando VII.
O grande sonho de Bolívar, depois da independência, era a manutenção da unidade da outrora colônia espanhola na América. Seu desejo, anunciado formalmente no Congresso do Panamá (1826), alcunhado de “pan-americanismo” ou “bolivarismo”, foi frustrado pelas divisões e particularismos da América Espanhola. Bolívar advertiu que, sobre o seu túmulo, surgiriam centenas de ditadores. De fato, posteriormente, nasceu um fenômeno denominado “caudilhismo”, no qual os líderes da América Espanhola livre se converteram em autoridades militares inclinadas a regimes autoritários que governavam à margem de preceitos constitucionais. O caudilhismo, juntamente com os debates entre centralistas e federalistas, seria a tônica da América espanhola após a independência.