O estudo da Guerra Civil Espanhola, porém, ultrapassa uma análise da situação interna daquela nação ibérica. Esta guerra pode ser compreendida à luz das relações internacionais. Os países envolvidos ou neutros em relação ao conflito refletem de alguma maneira uma tendência política acerca do confronto, ocorrida entre 1936 e 1939. As democracias ocidentais, por exemplo, mantiveram-se mergulhadas em um neutralismo que, de certo modo, favoreceu a tendência fascista e autoritária dos franquistas. Apesar de os governos da Grã-Bretanha e França jamais terem sido entusiásticos apostadores nos regimes autoritários de direita, a postura de neutralidade pesou para os nacionalistas, pois estes contavam com um precioso apoio externo europeu.
Em relação aos Estados Unidos, o Congresso manteve o tradicional isolacionismo preconizado por George Washington. O governo Frankiln D. Roosevelt aparentemente estava entretido demais com sua política de boa vizinhança com a América Latina e com o desenvolvimento do New Deal. A experiência sugere que os assuntos domésticos eram considerados pelo Departamento de Estado do governo dos EUA mais importante do que qualquer questão europeia.
Se ingleses, franceses e americanos não tiveram envolvimento direto com a Guerra Civil, o mesmo não se pode dizer acerca dos regimes autoritários de direita e de esquerda, interessados nos resultados do conflito. Para a União Soviética, que sofria ainda com um terrível “cordão sanitário”, que a obrigava a explorar um desenvolvimento econômico independente das relações com o Ocidente, a Guerra Civil poderia significar uma bela oportunidade para romper com o cerco dos países capitalistas, obtendo um parceiro socialista na Europa ocidental. O apoio soviético, entretanto, jamais foi suficiente. Os problemas eram os mais variados possíveis para os republicanos, desde a entrega de materiais de guerra oriundos de Moscou, que apresentavam qualidade técnica duvidosa, como fuzis com calibres diferentes dos projéteis, até o risco de que um regime revolucionário de tendência autoritária pudesse surgir das Brigadas Internacionais organizadas pelos socialistas disciplinados de linha stalinista. As rivalidades entre os republicanos não tardaram a surgir, existindo casos em que socialistas e anarquistas, por exemplo, trocaram tiros nas ruas de Madri.
Se, para a República, o apoio soviético se revelou indireto, insuficiente e tímido, o mesmo não se pode afirmar sobre o auxílio recebido pelo general Francisco Franco durante todo o conflito. O general Franco, que começou a guerra com uma rebelião militar no norte da África, contava não apenas com a ajuda e simpatia dos grupos mais conservadores da sociedade – há uma sequência no filme Terra e Liberdade, sobre a Guerra Civil, em que um padre atira do alto da igreja contra milicianos do Partido Obrero de Unificación Marxista – mas também com uma bem-vinda interferência italiana e alemã. Mussolini e Hitler enviaram soldados ao teatro de operações como forma de expandir a influência fascista e promover um organizado laboratório de guerra. Os alemães, que teriam a Blitzkrieg ou guerra-relâmpago como uma marca registrada na Segunda Guerra Mundial, enviaram um grupo de bombardeio denominado Legião Condor, o qual arrasou a cidade basca de Guernica, reduto republicano, eternizada em um quadro homônimo do pintor Pablo Picasso. Os estrangeiros do lado dos republicanos eram, na maioria das vezes, amadores bem-intencionados, como o escritor inglês George Orwell, e não profissionais da guerra como os fascistas italianos e os nazistas alemães.
O governo esquerdista da Frente Popular acabaria caindo em 1939, quando os franquistas confirmaram o domínio dos principais pontos da Espanha franquista, incluindo um sangrento cerco sobre Barcelona e Madri. Mais um país europeu aderia ao fascismo. A Espanha, contudo, assim como o salazarismo português, manteve-se neutra durante a Segunda Guerra Mundial e sobreviveu, como seu congênere ibérico, até a década de 1970.