O fim da Segunda Guerra alterou profundamente o cenário político mundial: a Europa, até então centro do planisfério, foi relegada para uma categoria de região coadjuvante nas relações internacionais. A ascensão dos Estados Unidos da América e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ditas superpotências, transformou o Velho Continente em pátio de manobras da Guerra Fria. A incapacidade da Europa em empreender projetos de reconstrução e defesa ficou evidente com a aplicação do Plano Marshall, programa de concessão de créditos americanos para os países ocidentais arruinados, e pela criação da Otan, bloco militar liderado por Washington. Os Estados Unidos assumiram o papel de tutor da Europa democrática contra a ameaça comunista.
A decadência europeia também ficou evidente com o sucesso dos movimentos de descolonização afro-asiáticos: o exótico pacifismo de Gandhi livrou a Índia, mesmo que sob o signo da fragmentação política, da presença imperialista britânica; as guerrilhas da Indochina e Argélia impuseram dolorosas e humilhantes derrotas aos franceses; em 1949, a Holanda já renunciara formalmente ao seu mandato sobre a Indonésia. O modelo de descolonização da Grã-Bretanha, denominado invariavelmente de pacífico, contrastava com seu congênere franco-belga, alcunhado de violento, por conta das guerras de libertação nacionais de vietnamitas e argelinos contra franceses e da guerra civil do Congo belga entre Patrice Lumumba e Mobuto Sese Seko. Na África Portuguesa, a descolonização tardia viria somente na década de 1970, quando a ditadura de Salazar seria derrubada pela Revolução de 25 de abril de 1974, denominada de Revolução dos Cravos. A social-democracia portuguesa de Mário Soares assinaria os acordos de independência com o Movimento Popular pela Libertação de Angola, de Agostinho Neto e com a Frente de Libertação de Moçambique, de Samora Machel.
Em 5 de maio de 1949, ocorre a primeira tentativa formal de resgatar o prestígio europeu através da unidade continental: o Conselho da Europa, espécie de ensaio de Parlamento representativo dos governos nacionais, foi criado com a função de incentivar os princípios democráticos, abalados com a traumática experiência do nazifascismo e colocados em risco pelo expansionismo soviético.
Em 1951, pelo Tratado de Paris, foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), que, devido ao seu aspecto de cooperação econômica, é considerada o marco zero da integração do continente. Aos países signatários, França – Alemanha Ocidental e Itália –, se juntaram Bélgica, Holanda e Luxemburgo, que já haviam promovido uma experiência bem-sucedida de união econômica, a Benelux.
No ano de 1957, os países componentes da Ceca formalizaram o Tratado de Roma, constituindo a Comunidade Econômica Europeia. Além da CEE, também foi instituída a Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom), responsável pelo desenvolvimento da indústria nuclear. Em 1965, os três organismos europeus, Ceca, CEE e Euratom, foram reunidos como Comunidade Europeia (CE).
A França, governada por De Gaulle, era contra a entrada do Reino Unido na CE, devido ao seu alinhamento com o governo dos EUA e à insistência de manutenção da Commonwealth. Somente em 1972, com o Tratado de Egmont, a Grã-Bretanha, além de Dinamarca e Irlanda, passaram a integrar a Comunidade Europeia. A Grécia, em 1979, e os países ibéricos, em 1985, também foram admitidos. A desintegração da União Soviética, em 1989-1991, favoreceu as candidaturas de países do antigo bloco socialista, como Hungria e Polônia, como possíveis Estados associados.
A construção dos símbolos da CE representam uma metáfora da dificuldade de agregar economias, nacionalismos e séculos de História sob uma mesma unidade: a proposta da adoção da cruz-Sol como bandeira da Europa unificada foi rejeitada, pois o cristianismo não seria aceito pacificamente por todos os Estados-membros: a pretensão da entrada da Turquia, por exemplo, tornaria-se inviável. O pavilhão europeu é neutro e discreto: doze estrelas “sobre o fundo azul do céu Ocidente”.
O hino da Comunidade Europeia, contudo, não provocou tanta polêmica: a Ode à alegria, de Schiller, musicada na Nona Sinfonia de Ludwig van Beethoven, é praticamente uma unanimidade europeia: “Freude schöner Gotter funken, Tochter auf Elysium…” (“Alegre, formosa centelha divina, filha do Eliseo…”)
O dia 1º de janeiro de 2002 foi, indubitavelmente, uma das datas mais espetaculares da Comunidade Europeia: a nova moeda continental passou a circular com o intuito de unificar o padrão monetário europeu. Entretanto, o euro, que deve competir com o dólar americano, encontra resistências dentro da própria CE: o Reino Unido, agarrado ao passado neocolonial, insiste em manter a libra esterlina, símbolo de uma época em que os britânicos exerciam um poder econômico mundial incontestável.
O desafio de tornar a Comunidade Europeia um bloco que possa fazer frente aos Estados Unidos e, possivelmente, ao regime da China, será, indubitavelmente, um dos maiores temas de estudo do século XXI. A integração econômica está em andamento, e os próximos passos — uma maior unidade política e a criação de um eficiente sistema de defesa militar que torne a Otan obsoleta — dependem do sucesso desta nova moeda, que, além da resistência inglesa, deve ainda enfrentar a problemática de equiparar economias tão díspares como a da Alemanha e de Portugal.